Capacità: Muito trabalho por trás do glamour

Equipe formada apenas por mulheres desmistifica o pensamento de que produzir eventos é somente festejar

Na sala de reuniões da nova sede da Capacità, localizada no Moinhos de Vento, a diretora-geral, Eliana Azeredo, confessa: seu sonho era ser entrevistada pelo Jô Soares, para contar o que realmente acontece nos bastidores de uma empresa de eventos. O consagrado apresentador perdeu, mas a equipe de Coletiva.net não deixou passar a oportunidade de falar sobre quem está por trás do sucesso de acontecimentos como o Fórum da Liberdade ou o Congresso de Inovação na Indústria.

O cliente que contrata a Capacità deseja grandiosidade e perfeição, mas para chegar ao resultado final, é muito mais complicado do que parece. De acordo com Eliana, o glamour é durante a ocasião, mas o que torna tudo tão mágico é complicado e trabalhoso. São as pequenas peças que fazem o encaixe ser perfeito, desde o entendimento da equipe ao receber o briefing, até a montagem do telão em um determinado local do palco. Diante dessas complexidades, a diretora garante que organizam eventos diferenciados para públicos exigentes. E este é o grande desafio das 14 mulheres que compõem a equipe: adaptar ideias incríveis a diversos níveis de recursos.

O sucesso é creditado à juventude das colaboradoras que trazem inovação e tecnologia, aliadas à experiência de mercado das gestoras - além de Eliana, há duas diretoras de Atendimento, Luciana Morales e Soraia Iessim, enquanto a área administrativa e financeira é de responsabilidade de Caren Azeredo.

Chegam para ficar

Criada há 22 anos por Eliana e a Angelita Schuch - antiga sócia, que ficou sete anos no empreendimento -, a Capacità, cujo nome se origina de uma pesquisa no dicionário italiano sobre capacidade, possui uma essência: quem chega é para ficar. Caroline Funchal, atendimento, foi a última a ingressar no grupo, mas acredita que cinco anos é muito tempo para ser considerada a caçula. Carol, como é chamada pelas colegas, se vê na melhor empresa do setor, onde as companheiras se dão bem e têm liberdade entre si.

Há cerca de 10 anos na empresa, a gerente Tahina Rocha conta que a monotonia não está presente no dia a dia da, ou seja, "a rotina é não ter rotina". Dentre as atribuições dela, que faz parte da equipe operacional, estão atender aos clientes, falar com os fornecedores e trabalhar com orçamentos diversos.

Desde a captação do briefing até a criação de relatórios, são as gestoras que se envolvem intensamente para conquistar novos projetos e desenvolvê-los com o restante da equipe. Caren, Luciana e Soraia estão com Eliana desde o começo, quando, segundo Lu, havia apenas dois computadores e a senha deles era "proposta nova". Inicialmente recepcionista, Caren, aos 19 anos, abriu as portas do empreendimento da irmã, literalmente, já que, quando recebeu os primeiros telefonemas sentada no chão da primeira sede, as diretoras saíam para vender. "É muito bom ver o resultado quando tu fazes parte do crescimento de uma empresa e vai colocando cada tijolinho", comenta ela, que neste tempo se graduou, casou-se e teve dois filhos. Trabalhar em família é complicado devido às exigências, mas, ainda assim, se aprende muito e se ganham responsabilidades, na sua visão.

Luciana e Soraia chegaram nos primeiros meses após o lançamento do negócio, que deveria ser conhecido por Congress, mas o nome já havia sido registrado. Reconhecida por Eliana como uma 'pessoa do bem, paciente e que nunca diz não', Soraia relembra que até aula de pacote Office fez no trabalho e ainda admite: as meninas fazem parte da sua família. E não é para menos, afinal, são cerca de duas décadas de convívio diário refletidas em longas amizades que ultrapassam a preparação de eventos corporativos. As comemorações de aniversário, por exemplo, já viraram datas certas em seus calendários pessoais.

Para Luciana, é como o slogan ufanista utilizado na ditadura militar: ame-a ou deixa-a. "A gente passa muito tempo juntas, seja no escritório ou viajando. Precisamos de parceria e cumplicidade", opinou, revelando que alguns dias são mais tranquilos e, em outros, há a necessidade de ajudarem mais ainda umas às outras. E isso se reflete também fora das fronteiras do trabalho - a diretora-geral é madrinha do filho de Lu. Além das conversas diárias pelo WhatsApp, se reúnem em aniversários, almoços e, até mesmo, são companheiras de jogos de futebol - principalmente as gremistas quando vão juntas ao estádio torcer pelo Tricolor.

Novos rumos, novos ares

A troca de sede foi uma das principais mudanças nos últimos tempos. Uma casa construída no bairro Menino Deus, com apoio de fornecedores que trabalhavam com móveis e ar-condicionado, por exemplo, abrigou a equipe por longos 16 anos. O antigo espaço não permitia a comunicação direta dos colaboradores, que trabalhavam em andares diferentes, e passou a oferecer alguns riscos na segurança do entorno. Motivos suficientes para optar por um novo endereço.

Em 2017, mesmo contra a vontade de Eliana, apegada à casa, a Capacità voltou às origens e passou a ser mais uma vez vizinha do Parcão, primeiro destino da empresa. Porém, a diretora logo se acostumou, pois, segundo ela, após uma semana não se lembrava mais da sede de três andares. Hoje, a troca de local de trabalho é vista como ponto positivo, pois, além da linda vista, as colegas caminham pelas ruas arborizadas e fazem refeições juntas - as diretoras, principalmente, devido à hora do almoço que é transformada em bate-papos sobre o andamento dos projetos. "Foi o gás que nós precisávamos para enfrentar a crise", avalia Eliana.

A calmaria em dias de planejamento se transforma em loucura nas vésperas dos eventos. E isso tudo acontece em uma sala de reuniões, espelhada, ao centro das estações de trabalho. O local ainda conta com um refeitório. O corredor esquerdo é o ponto de encontro: como todo trabalho gira em torno do operacional, a equipe normalmente fica no espaço trocando informações sobre o trabalho ou conversando sobre receitas de comidas saudáveis. Mas o que mais as une no local é quando o entardecer chega e a janela vira pintura da natureza, proporcionando a vista do pôr do sol mais bonito da cidade - segundo elas.

"Agora eu sou moderna", diverte-se Eliana, comentando sobre outra novidade. Inspirada por empresas internacionais, a diretora-geral instituiu que a sexta-feira é o dia do happy hour, com cervejas e comidas, além do 'Pet Day', no qual as meninas podem levar seus animais de estimação para passar um dia no trabalho das donas - limitado a dois por semana, já que as primeiras experiências causaram bagunça entre os bicinhos.

Mais do que colegas

As duas décadas da empresa trouxeram ao grupo mais do que boas lembranças da comemoração - imagine uma empresa de eventos planejando e executando uma data tão marcante como essa. Na época, foi criado um grupo de WhatsApp que permanece até hoje e une, inclusive, quem não está mais na empresa. Esses, de longe, realizam trabalhos freelancers ou torcem durante as conquistas da empresa.

Com uma lista de checagem composta por, no mínimo, 100 itens, e com inaugurações desde estradas até hidrelétricas no portfólio, o que não faltam são histórias que, muitas vezes, eram trágicas na hora, mas hoje geram boas risadas. Como é o caso do leite que faltou para fazer o chá inglês do ex-primeiro-ministro do Reino Unido Tony Blair. As meninas ainda ressaltam a organização de painéis e debates com a presença de autoridades políticas como o ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton e o juiz Sérgio Moro. E nada disso pode acontecer sem antes passar por um planejamento altamente detalhado para que se alcance um resultado final digno do encantamento dos clientes.  

Apesar da correria, até conseguem se divertir durante o trabalho, como em shows de Lulu Santos e Elba Ramalho, além do Carnaval do Rio de Janeiro. Quando a última luz do salão é apagada, após a desmontagem do evento em questão, o desejo por descanso logo passa, pois é necessário pensar no próximo trabalho. Afinal, é um mundo viciante e essas mulheres são capacitadas.

 

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