Conjunto: Na contramão do sistema

Localização, casa, ambientes e horários. Ela vai no sentido contrário do modelo tradicional de agências

Uma tarde ensolarada e de calor, no meio do inverno gaúcho, é o cenário da visita à agência Conjunto. Não são necessários nem cinco minutos para que os sócios Marcelo Aimi, Rodrigo Rey e Guido Zimmermann parem o que estão fazendo para receber, muito bem, a equipe de Coletiva.net. Depois do trio, quem veio ao encontro da reportagem do portal é o CEO, Rocky. Quem é ele? Um bulldog francês, que é tratado com muito carinho por toda equipe.

Para descrever a Conjunto, é importante pontuar alguns aspectos. Primeiro, que a localização física fica na Zona Norte de Porto Alegre, ou seja, fora do tradicional circuito de agências gaúchas. Depois, que sua sede fica em uma casa - e não em tradicionais andares de salas unidas e ambientes abertos. Sim, uma casa térrea, que tem um ambiente, pasmem... de casa! Ou seja, com cozinha, banheiro com banheira de hidromassagem, lareira, garagem, pátio e etc. A agência - não fossem o tamanho e a organização - poderia parecer a minha, a sua ou a casa de qualquer leitor.

Pizza só se for na rua

O trio de sócios comenta que foram para lá já com a lógica de casa mesmo, e que, inclusive, uma cozinheira foi contratada para fazer o almoço diariamente à equipe. "A galera ama a Jú e a comida dela. No inverno, o pessoal se junta em torno da lareira, para fazer um lanche, por exemplo. Então, temos esse clima caseiro, que vai contra o conceito corporativo das agências localizadas mais no Centro, no Moinhos de Vento, etc", reforça Aimi.

Logo que se entra na agência é possível enxergar uma grande sala, dividida em ilhas. Esses espaços são organizados por núcleos de trabalho, portanto sentam próximos profissionais de Atendimento, na outra fica o grupo que atua na Criação, e assim por diante. Passando por um corredor, há ainda três salas. Numa delas, fica o administrativo; na outra, os responsáveis pelo setor digital; e, ao fundo, a sala de reuniões.

Na conversa com os sócios, inclusive, brincam sobre as disposições das mesas e salas de trabalho deles mesmo: "Algumas vezes, mudamos de lugar, mas, na verdade, os colaboradores é que definem onde vamos sentar. Não temos um ambiente dos sócios, pois queremos estar próximos da operação e esse é o clima com o qual trabalhamos", aponta Rey.

O ambiente da agência foi outro ponto observado pelo trio. Se nesse mercado são comuns relatos de profissionais que trabalham até tarde da noite - por vezes, até madrugada adentro, na Conjunto é diferente. "Não significa que isso nunca ocorra, pois véspera de lançamento de campanha é sempre mais corrido, mas é raro e muito pontual", explica Guido, que é completado por Aimi: "Antigamente, e para alguns ainda hoje, isso remetia a glamour, mas, para nós, não é normal comer pizza enquanto trabalha. Isso é para ser feito acompanhado de cerveja, para extravasar longe do trabalho". Para ele, a equipe deve ter vida além da agência. Ainda sobre o tema, Rey cita que "o cara que fica lá ate às 22h não vai entregar o melhor, pois cérebro e corpo já estão cansados".

Alguns queridinhos

Entre os principais clientes da Conjunto, está a CMPC, conta conquistada há 10 anos e que resulta em muito orgulho aos sócios, pois, nas palavras de Aimi, "as pessoas tinham um apreço grande pela Aracruz (nome utilizado antes da venda ao grupo chileno), que era uma marca muito valiosa no mercado". Por isso, na sua opinião, foi um projeto muito denso, que envolveu também pesquisa e trabalhos de comunicação interna de uma indústria que tinha mais de 2 mil funcionários. "Foi um case no qual atuamos no digital, na propaganda tradicional, comunicação interna e nas comunidades."

Também sobre este cliente, Rey ainda lembra que a empresa organizou caravanas por Pelotas, Rio Grande e Região Metropolitana, 'vendendo' eventos e cursos profissionalizantes para que os membros da comunidade local pudessem aprender e, por consequência, vir a trabalhar na empresa. Como isso tudo fugia da comunicação tradicional, atuavam até mesmo para aumentar o número de inscritos nos cursos, com o objetivo de garantir mão de obra local. "Fizemos parcerias com rádios para divulgar esses trabalhos. Dentro dessa seara, aprendemos também o valor do carro de som para as cidades do Interior, por exemplo", recorda ele, lembrando que, neste trabalho, perceberam mais ainda a importância do "folhetinho" (folder) deixado na caixa de correspondência.

Outro cliente que pode ser destacado no portfólio é a Kolosh (Dakota), que está com a agência desde 2011. Em uma das salas, inclusive, é possível ver uma estante cheia de sapatos e sapatilhas da marca. "Com este cliente, apesar de termos iniciado com a conta digital, fizemos várias ações que extrapolavam o mundo online. Usávamos este ambiente apenas para reverberar, mas as campanhas aconteciam no mundo real", lembra Aimi. Guido concorda e reforça que foi feito "um grandioso trabalho de reposicionamento desta marca".

O terceiro case recordado pelo trio foi um mais antigo, realizado ainda na época do Orkut, produzido entre 2009 e 2010. O cliente desta vez era a lojas Gang. "Tínhamos um guri 'colírio da Revista Capricho', o qual contratamos para uma campanha da loja. Ativávamos ele no Orkut e, com isso, em uma determinada ação, paramos o Shopping Iguatemi. Era o influencer da época, só que ainda não tinha esse nome", lembra Guido.

Resgatar esses trabalhos faz com que os sócios salientem que entrega é uma palavra de ordem na agência, mesmo admitindo que nem todos são ou serão nota 10. "Claro que a gente cobra resultado da equipe, porém acreditamos mesmo é na consistência de um trabalho. Isso é o que há de mais importante para nós", pontua Aimi. E a premissa não vale apenas para ações. Rey diz que, quando solicitada uma apresentação da empresa, são mostrados os seus valores, para que, assim, o possível cliente possa saber se a Conjunto "dá match" com sua busca. "Quando essa sintonia não acontece, contamina toda equipe. O cliente é ruim? Talvez não, mas para nós, foi. O ideal é sempre começar já mais acertado", argumenta.

Quem entrega

Para falar da equipe, é impossível não começar citando novamente o Rocky, que acompanha, diariamente, o ritmo e os afazeres da agência e de seu dono, o Guido. Em uma sala de reuniões, por exemplo, o bulldog francês tem até mesmo a sua própria cadeira - e, aparentemente, é o único que tem lugar marcado neste ambiente. "Quando o Guido sai de férias, a gente tem certeza que quem mais estranha é o Rocky", brinca Aimi.

Quando se fala em personagens da história, surge o nome do diretor de Arte Hermes Machado. Ele já atuava ao lado de Aimi em outra empresa. Para o funcionário mais antigo, o ambiente é um dos diferenciais da casa. "O clima é muito bom, e é bastante diferente do que a gente ouve por aí. Aquela pressão de ter que ficar até tarde, aqui, não rola", reitera ele. "Um pouco se confunde o que é a minha evolução pessoal ou profissional. Quando comecei, tinha recém me formado. Então, o Hermes de hoje é completamente outro", afirma, contando que era extremamente estressado com a resolução de tudo. Hoje, com a própria experiência, nota as diferenças de algo que resolve com pressa do que o que consegue fazer com calma.

Ana Moreira, que atua com planejamento e coordenação digital, tem uma história curiosa, pois já viveu três primeiros dias na agência. A estreia foi ainda como estagiária, em 2011, quando iniciou na produção gráfica. Tempos depois, ainda deu suporte à mídia e se apaixonou por Atendimento. O segundo 'primeiro dia' aconteceu três meses depois da primeira saída. Nesta segunda passagem, Ana permaneceu por três anos.

Ao viver uma experiência de morar e trabalhar na Serra, em Nova Petrópolis, sentiu-se "sufocada com aquela calmaria toda". E trabalhar em indústria, para quem vem de agência, segundo ela, precisa desacelerar muito. "Meu ritmo era outro, estava me sentindo acomodada. E não tem nada melhor do que uma agência para nos tirar do marasmo." Então, ligou para a empresa, falou da vontade de voltar à capital gaúcha e soube que estavam precisando de alguém que coordenasse o digital: "Perguntaram se eu queria, aceitei e, em 15 dias, estava de volta", conta, orgulhosa.

Comemorações

Contar sobre como a agência funciona hoje em dia pede, também, que se explique como tudo começou. E para fazer com que as pessoas entendam, os sócios fazem uma comparação com o Brasil, que tem a data de descobrimento e também a da independência. Acontece que a Conjunto atual surgiu a partir da fusão de duas agências: a Soul, comandada por Aimi, e a Conjunto, de Rey. Por algum tempo, ainda levou o nome de ConjuntoSoul, mas questões burocráticas e facilidade de aceitação no mercado a deixaram com o primeiro nome.

Mas, então, como comemorar o aniversário? Simples. Eles consideram o ano de fundação - quando Rey começou o negócio, em 1998, e a sua refundação, há 10 anos, com a chegada da Soul. "Aqui, comemoramos tudo", garante Rey, sorrindo e com gestos expansivos. De fato, a Conjunto mostra ser uma agência bem particular. E, talvez, possa ser traduzida como um conjunto de fatores, habilidades, pessoas e valores.

Comentários