LZ: Tamanho família

Com mais de quatro décadas, a exibidora se orgulha de adotar o conceito de grupo

O pátio grande e arborizado, localizado na zona industrial de Eldorado do Sul, não aparenta, às 10h da manhã, a movimentação de duas horas antes. É que, a partir das 8h, os funcionários começam a se movimentar, conversam e combinam os detalhes do dia no local que antes abrigava toda a operação do Grupo LZ. A área de produção se mudou para a Avenida A. J. Renner, em Porto Alegre, ganhou proporção independente, e deixou no local de origem resquícios de algumas peças. Entre elas, lonas que são retiradas de painéis e aguardam por pessoas que precisam delas durante os fortes temporais do inverno, que destelham as casas da vizinhança.

A parte exterior do prédio ainda possui uma tabuleta de 27 metros quadrados, onde são exibidos os produtos de expertise da empresa: outdoors - tanto em papel, quanto em lona. A sede onde já estão há 15 anos, após cerca de três décadas na Zona Sul de Porto Alegre, em Teresópolis, também possui refeitório. Porém, quase não é utilizado, em vista de os colaboradores preferirem almoçar nas redondezas.

Base Familiar

A LZ está prestes a completar 46 anos de atividade e, ao salientar isso, o diretor Comercial, Marcus Zanetello, recorda que a empresa é oriunda do desejo do pai, Francesco, de trabalhar com Comunicação Visual, quando a área sequer recebia esse nome. Após contrato malsucedido com uma companhia de painéis rodoviários, o patriarca deu a volta por cima quando alugou um caminhão e saiu com alguns funcionários aprendendo a fazer o serviço na estrada.

Depois de quatro décadas, são os filhos Jean Carlo, diretor Financeiro, Luciano, diretor de Produção, e Marcus que comandam o grupo ao lado da mãe, Nádia, com 87 anos, responsável pelo faturamento da organização até hoje. Uma das representantes da terceira geração, que também atua na LZ, Ludmila, filha de Marcus, revelou que a exigência do pai é muito maior em relação a ela e à irmã, Lívia, que trabalha no financeiro. "Tento estar sempre no horário, fazer tudo rápido e certo", conta, acreditando ter os holofotes mais voltados para si devido aos outros funcionários poderem se sentir desprotegidos. Rogério Canterji, marido de Ludmila, que é o gerente-executivo, pondera, em defesa do sogro, que este é muito justo e profissional nesse sentido.

Ele também salienta que consegue circular bem entre as áreas, mas percebe que são relações quase que segmentadas. A impressão é corroborada por Ludmila quando conta que, certa vez, uma consultora disse que cada diretor dentro da empresa tinha os seus feudos, ou seja, os protegidos. Isso porque, conforme análise, uma empresa familiar possui um lado protetor com os colaboradores bastante saliente.

Para Marcus, trabalhar com a mãe, irmãos e filhas não é fácil, por conta do seu temperamento. No entatno, garante que tudo acaba em risos e que sente pena por não se verem tanto fora da LZ.  Mario Birnfeld, gerente comercial com 20 anos de casa, diz que, na antiga sede, já existia uma base familiar forte e esta, em virtude da sucessão da prole, aumentou positivamente ao longo dos anos. "A gente se agrega a esse jeito de trabalhar, e acho que é isso que transforma as pessoas daqui em uma espécie de grande família", afirma, acreditando na criação de laços e vínculos além do profissional.

Sem distinção                                           

Apesar da placa no banheiro informando "uso exclusivo do Sr. Marcus", que se localiza no corredor das salas dos diretores, Rogério garante que não se faz distinção na empresa e que todo mundo pode fazer o trabalho um do outro. Mario concorda que há pouca hierarquia. "Na porta dele (Marcus) tem a placa 'entre sem bater' e é o que a gente faz", detalha. Acredita também que todo dia é um dia diferente, com um desafio novo que encaram, sempre instigados pelo inquieto Marcus, que, além de ter a direção do Comercial, deixa sua equipe à vontade para gerar e fazer negócio.

O colaborador relata também que, no último ano, foram os primeiros a trazer um outdoor digital a Porto Alegre, localizado na saída do Túnel da Conceição - sentido centro-bairro. "Essa inquietude vem desde os primórdios. Começa com o painel de estrada, depois outdoor, chegou ao busdoor, o qual fomos os primeiros a confeccionar na Capital, além de abrigo de ônibus quando não existia mobiliário urbano", elogia Mário. Ele lembra ainda do mobile, produto exclusivo da LZ, que é basicamente um outdoor em movimento, pois leva a marca do anunciante em cima de um carro para cidades que não têm cobertura de outdoor. "Estamos sempre na vanguarda, e isso me motiva porque permite que eu não faça a mesma coisa há 20 anos."

Dentre as peculiaridades da empresa, Marcus cita o episódio do falecimento do chefe da gráfica, Mário Lencina, que teve um infarto na sede da LZ, em Eldorado do Sul. "Sempre éramos visitados por um enorme lagarto no horário do almoço, então se criou a lenda de que era o espírito do Mário reencarnado no lagarto", revela o gerente comercial.

Na estrutura, são cerca de 70 funcionários que se dividem nos setores administrativo, comercial, instalação, manutenção e impressão. Enquanto a expedição se encontra em Eldorado do Sul, o acabamento fica em Porto Alegre, e essa logística de estrada faz Canterji opinar que todos dependem de todos para que a engrenagem funcione. O diretor Luciano, apesar de responsável pela produção, não quis se mudar para a Capital, mas controla todos os processos e funcionários por câmeras, mantendo tudo, literalmente, interligado.

Braço Stickado

A área de produção da empresa começou como um setor de serigrafia, que imprimia para as exibidoras - podendo ser a própria LZ ou outras. Com o advento do processo de impressão digital, a evolução natural disso foi se tornar independente como fornecedora: assim surgiu a Stickado, braço da LZ que produz e imprime o material. "A produção serigráfica foi ficando para trás, enquanto a demanda por digital, a partir de 2010, começou a entrar muito forte no mercado, e o Grupo acompanhou essa mudança", assim conta Maicon Pagani, gerente do local.

Com cerca de 20 pessoas e uma sede de dois andares, foi criada em 2011 para atender tanto à Comunicação Visual, como a fornecedores de mídia externa, e está há pouco mais de um ano em nova localização: Porto Alegre. Com autonomia em relação à empresa-mãe, Maicon conta que pouco se cria na parte de outdoor e busdoor, por exemplo, pois os clientes, normalmente grandes empreendedores, mandam os arquivos prontos. Porém, na parte de comunicação visual, 40% do que é impresso é criado no local.

No andar de cima, coordenados por Maicon, estão Letícia Soares, que é a única mulher da equipe, sendo responsável pelo financeiro, enquanto Eduardo Behr de Moraes é o criativo que atua com as mídias sociais e o Marketing. A equipe ainda é formada por Marcus Ramos Junqueira, técnico em Programação Visual, enquanto Éder Costa agenda as visitas e coordena a equipe de logística. No térreo, máquinas de impressão, solda e acabamento dividem espaço com o entra e sai da equipe externa. Nos fundos, estoque de tinta e máscaras fazem parte da rotina de funcionários que imprimem adesivos e lonas e convivem com o cheiro muito peculiar para quem trabalha na área. 

Ao visitar os dois lugares - em Eldorado do Sul e na Capital -, parece impossível manter a ordem, a comunicação, a logística, enfim. Mas é realmente surpreendente perceber como os processos se conectam e tudo, cada detalhe sinalizado, faz parte de uma grande engrenagem. São duas empresas, quase dez produtos, 10.350 metros quadrados divididos em duas cidades, três gerações atuantes, e o principal: tudo funciona há mais de quatro décadas.


 

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