Piropos & Galanteios

Meu amigo Angel Martinez está preocupado e perplexo. E com sobras de razões. Jornalista por profissão e portenho de coração, passou dois anos pesquisando o piropeo a ancestral arte do galanteio, uma tradição em Buenos Aires e cidades da América Latina. No entanto, diante de tantas denúncias sobre assédios e comportamentos não corretos, Angel já não sabe qual o destino do livro que está escrevendo - e para o qual havia um editor interessado. E tem dúvidas sobre o provocativo título, retirado do folclore portenho:

Piropos Calejeros, ou melhor,

Galanteios de rua.

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E, para evitar que seus futuros leitores imaginem algo exclusivo dos don juans da Calle Florida, o amigo Angel Martinez se deu ao trabalho de pesquisar a origem e história do piropeo. E descobriu ser um termo antigo, derivado dos romanos e usado no século XVII para designar as pedras preciosas de cor vermelho-rubi, como a granada. Que era usada pela aristocracia da época na corte às mulheres. Para os galanteadores desprovidos de recursos para comprar a joia, restava apelar para as belas palavras e versos galantes. Que passaram a ser chamados de piropos e adotados nas ruas e plazas de Madrid. Uma explicação para o fenômeno pode ser encontrada em um provérbio espanhol:

"Así como el hombre se enamora por los ojos,

la mujer se enamora por los oídos."

Desde então, o piropeo tornou-se popular entre os madrilenhos, que o desenvolveram como arma indispensável na arte da sedução. Mas, às vezes, a elegância cedia espaço à picardia, principalmente quando se tratava de elogios aos atributos físicos das señoras e señoritas. Não se sabe exatamente quando o piropeo chegou à América do Sul, mas, como tantos outros hábitos e costumes latinos, devia estar presente na bagagem dos conquistadores de Castela que descobriram o Rio de la Plata.

Angel Martinez não se limitou a pesquisar em livros de história. Foi às ruas, entrevistou velhos tangueros e boêmios aposentados dos velhos barrios de Buenos Aires. E reuniu extensa coleção de piropos que podem ser o melhor de Piropos Calejeros - se um dia o livro chegar às livrarias. Ele antecipa alguns dos mais tradicionais e divertidos, que colheu nas ruas de Buenos Aires:

"Si Cristóbal Colón te viese diría:

Santa Maria, pero que Pinta tiene esa Niña."

"De tu boca quiero un beso, de tu camisa un botón,

de tu pensamiento un deseo y de tu pecho el corazón."

"¿Dime preciosa, crees en el amor a primera vista,

o voy a tener que pasar dos veces?"

"Dios debe de estar distraído, ya que angelitos

como tu se le están escapando."

"¿No estás cansada? Es que has estado dando

vueltas todo el dia en mi cabeza."

"¿Acaba de salir el sol o es que me has sonreído?"

"Cuando Dios inventó la belleza, definitivamente se inspiró en ti."

"Mañana, si Dios quiere, voy a confesar lo que unos ojos negros me han hecho pecar.

¿Dónde venden los números para ganarse este premio?"

"Labios de fresa, ojos de chocolate y piel de miel, con esos ingredientes tu madre hizo el mejor pastel."

"Camina por la sombra, que el sol derrite los bombones."

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Autor
José Antônio Moraes de Oliveira é formado em Jornalismo e Filosofia e tem passagens pelo Jornal A Hora, Jornal do Comércio e Correio do Povo. Trocou o Jornalismo pela Publicidade para produzir anúncios na MPM Propaganda para Ipiranga de Petróleo, Lojas Renner, Embratur e American Airlines. Foi também diretor de Comunicação do Grupo Iochpe e cofundador do CENP, que estabeleceu normas-padrão para as agências de Publicidade. Escreveu o livro 'Entre Dois Verões', com crônicas sobre sua infância e adolescência na fazenda dos avós e na Porto Alegre dos velhos tempos. E-mail para contato: [email protected]

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