Quando as mãos viram coração
Por Grazielle Araujo
Escrever sempre foi meu hobby predileto (ah Grazi, que novidade!). Desde os tempos de diário em que eu desabafava para valer, sonhava com a ponta dos dedos segurando a caneta e deixava registrado naquelas folhas seguras por cadeados o que exatamente se passava na minha cabeça. Sem filtros, sem pudores e sem obrigação. Era um compromisso comigo, ninguém me cobrava. Eu gostava de reler os anseios do mês anterior, de dar risadas de bobagens adolescentes e de ver o quanto o ato de colocar no papel contribuía para que algumas coisas, de fato, se realizassem. Sim, eu acredito na força das palavras.
Então segui com essa doce mania de escrever, o que por vezes pode até ter me "roubado" a habilidade de dialogar, porque na escrita eu sempre coloquei o meu coração para pulsar. O ato de redigir é um ato de amor, de entrega. A vida adulta veio ensinar que mesmo sabendo me expressar entre as linhas, tem vezes que é exigido um olho no olho. A verdade também está ali, mesmo que difícil de encarar. Ao longo destes 34 anos, nada substituiu, de fato, a narrativa no papel. Obviamente não foi à toa que optei pelo jornalismo.
A facilidade de um bom texto está na percepção do autor, naquilo que faz começar a rabiscar o bloco. Se eu disser que é preciso ser um bom observador vou estar me boicotando, porque não consegui adquirir - ainda - esta virtude. Mesmo muitas vezes com a cabeça na lua, o ouvido não engana, o tom de voz entrega, a entonação dá a manchete. Para redigir, basta alguns minutos e um teclado disponível.
Mas de todo esse universo mágico e doido de palavras, linhas, vírgulas, parágrafos e pontos finais, o meu texto predileto é aquele que é escrito por acaso, como os dos diários da juventude. A inspiração pode vir de tantos lugares que pontuar alguns seria até desleal. A parte mais bacana é quando eu consigo fazer com que alguém também se encaixe no meio daquela infinidade de letras que, juntas, retratam diferentes significados de situações cotidianas. Nem sempre é algo particular, mesmo parecendo ser.
É um mergulho tão profundo que, por vezes, parece que foi somente uma transcrição de pensamentos. E na maioria das vezes, é. A melhor parte de escrever por escrever é redigir de peito aberto, de alma. É realmente se entregar. Deixar pulsar na ponta do dedo o que está percorrendo o corpo inteiro. E, por fim, ver que muita gente se dá o trabalho de ler, se encontrar em alguma estrofe e compartilhar de algum sentimento em comum.