Como contar histórias que produzam engajamento do público

Pauta foi tema de palestra de Cheryl Miller Houser, autora de documentários do Discovery Channel e National Geographic

Por Letícia Duarte

"Se você quer provocar impacto social, esqueça os discursos e as estatísticas. A maneira mais efetiva de engajar o público é contando histórias que produzam empatia." O recado é da premiada autora de documentários Cheryl Miller Houser, que proferiu uma palestra no SXSW nesta quarta-feira, 14, no SXSW. Responsável por trabalhos como Children of Darkness (1983), um filme sobre crianças com doenças mentais indicado para o Oscar de melhor documentário, ela também ajudou a produzir inúmeros vídeos do tipo para Discovery Channel e National Geographic. Atualmente, é proprietária da agência Creative Breed, que tem produzido trabalhos como Generation Startup (Geração Startup), disponível na Netflix. Os materiais têm em comum um olhar sensível sobre as histórias dos protagonistas, que estimulam a identificação do público.

Em sua apresentação, ela compartilhou sugestões para quem quiser contar histórias capazes de estimular mudanças sociais. O primeiro passo seria encontrar algo que emocione a você mesmo. "Empatia começa aqui, com o coração. Parece óbvio, mas não paramos para ouvir, prestar atenção no que o mundo precisa e no que nosso coração nos diz. Muitas vezes, alguém tem uma ideia e não sente a confiança necessária para contar a história, ou acha que não vai dar certo, ou vai ser muito difícil, e desiste", fala e aconselha: "Então, o primeiro passo é confiar em seu coração, identificar algo com o que você se importa e quer ajudar a resolver, depois pense em como contar essa história para dialogar com a audiência".

Cheryl relembrou uma história familiar para ilustrar o poder de uma ideia. Incomodada com os tabus que cercam a menstruação feminina, sua filha Sophie teve a ideia de criar um game em que a protagonista lançava absorventes como arma para derrotar adversários. Cheryl diz que não deu muita bola para o projeto da filha, na época, adolescente. Um dia depois do lançamento do jogo, para sua surpresa, uma jornalista de Londres ligou para entrevistar a jovem. O game havia se tornado viral. "As mulheres se identificaram com aquilo, o jogo havia criado empatia, e elas se sentiam empoderadas com ele", exemplificou.

Ela também citou como exemplo do mesmo fenômeno uma campanha publicitária lançada por uma marca de absorventes femininos em 2014, que ganhou o mundo e deu origem à hashtag #likeagirl (https://www.youtube.com/watch?v=XjJQBjWYDTs). "As pesquisas mostravam que 50% das adolescentes do sexo feminino perdem a confiança na puberdade. Então, eles encontraram uma maneira de discutir o assunto e estimular o poder feminino", falou.

O comercial começava com adolescentes de ambos os gêneros respondendo a questões como: "me mostre como corre uma garota", "me mostre como luta uma garota", e as respostas eram geralmente identificadas com estereótipos de fragilidade. Depois, meninas respondiam à mesma pergunta e apresentavam força e vitalidade, encerrando com a frase "Vamos fazer #comoumagarota significar coisas incríveis.

Para Cheryl, o mesmo princípio serve ao Jornalismo. "Se queremos que os leitores prestem atenção nos problemas sociais, isso não será feito com foco nas questões teóricas ou em números, mas com pessoas. Os leitores são movidos por histórias humanas. Na crise dos refugiados, por exemplo, os leitores não serão tocados por estatísticas. Mas podem decidir se engajar no tema quando lerem histórias de famílias que estão sofrendo com isso", analisou.

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