As últimas contendas

Por Iraguassu Farias, para Coletiva.net

Jornalistas normalmente noticiam contendas. Informam as rusgas, os embates, e não raras vezes, alguns opinam. Outros até julgam.

E nestes tempos em que "politicamente correto" passa a ser um mal a ser eliminado (acabei de ouvir isto na Casa Branca), dá pra se perguntar: mas se é correto, por que é ruim?

Dizia do papel do jornalista e do politicamente correto, certo? Pra falar da inversão destes papéis nos últimos dias, onde jornalistas entram na arena e são os atores dos embates.

De um lado, um jornalista lança uma informação aparentemente acachapante, ao inferir que colegas de profissão estavam intimamente ligados à corrupção num clube da capital. Pelo que percebi, o petardo lançado não se limitava a dizer que colegas assessoravam pessoas envolvidas em falcatruas. E, na medida em que a fala foi em frente ao MP, claramente as cores negras pairaram sobre os supostos colegas. Instado, provocado por dirigente classista, tergiversou. O lapso temporal "após o Carnaval"  já foi prorrogado, ou seja: pode ser um ano.

Independentemente da veracidade a pergunta que fica é: é politicamente correto lançar suspeitas desta forma, digamos, um tanto irresponsável? Sim, porque se veio a público afirmar haver colegas envolvidos em casos escabrosos, duas perguntas se fazem absolutamente necessárias: por que faço isto? Tenho provas cabais? O tempo atual é perigoso. Muito perigoso. Ainda ontem - apenas pra registrar, alguém foi queimado vivo no chamado "micro-ondas". E se tem a certeza de ser o sujeito culpado mesmo? Peço perdão pela comparação rude e tétrica. Mas a reputação não vale nada? Reflitamos.

Aqui falo de Farid Germano Filho e de Alex Bagé.

Na outra contenda envolvendo jornalistas, novamente a reputação em jogo. Ou jogada. E neste outro caso, tanto bateu um, que a reação veio forte. Não sei se dinheiro paga a mancha deste ou daquele, mas que dói, dói. Assim, Prévidi, que afirma só falar a verdade, vem de ser condenado por injúria (não sei bem a tipificação criminal, mas não importa). Alguns poderão considerar a pena pecuniária exagerada, quando sabe-se que tribunais, na ausência de referências claras para determinar-se dano moral, levam muito em conta a condição econômico-financeira do injuriado (não enriquecer injustamente) e do injuriador (capacidade de pagar sem prejuízo da mantença). Entretanto, toda pena é catequética. A ideia é exatamente esta: não se faça mais isto, doravante. O injuriado, no caso, foi Cyro Martins Filho. E eis agora um dos lados pedindo ajuda para adimplir a penalidade, dando a ideia de que a pena foi mais do que o valor a ser pago, mas também de ter de pedir publicamente dinheiro. Não creio que um dos lados faça isto confortavelmente.

Bem, não faço aqui juízo pessoal. Apenas relato o que as notícias mostram e fico me perguntando se este é papel de jornalistas: buscar audiência em cima da reputação de outros. Neste caso, de também jornalistas.

Sinceramente? Acho bem triste isto. O país mergulhado numa polarização sem igual, a bílis comandando e pautando nosso cotidiano, e vemos aqui na província arranca-rabo entre e com colegas.

Não há vencedores.

Iraguassu Farias é diretor Comercial de Coletiva.net.

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