Seja ministro não!

Por Iraguassu farias, para Coletiva.net

Assisti dias atrás Augusto Nunes e fiquei muito preocupado. Antes de mais nada, ressalte-se, um jornalista conhecido, responsável por muitas redações de veículos deste País e com passagem por Porto Alegre, mais precisamente em Zero Hora.

Atualmente na Veja, esteve na cidade para falar das perspectivas do novo governo, sob a ótica do jornalismo, claro. Estava, até dias atrás, junto com Alexandre Garcia, cotado para ser secretário de Comunicação do próximo governo. Evidente que, por conta disto, eu não esperava nada de diferente em sua fala, um verdadeiro libelo e desbragado otimismo em relação ao tempo que virá. Perspectivas ótimas, segundo ele. Nada diferente do traçado que vinha fazendo na mídia em relação a isto. Até aqui, tudo certo. Fosse um interlocutor de outro campo ideológico, não veríamos nada diferente, apenas com outras cores.

Entretanto, o que me preocupou, e esta é - apenas esta, a razão da minha escrita, é o raciocínio raso, cartesiano, linear - ou outro adjetivo que se queira dar, que impera nestas perspectivas governamentais a partir de 2019, a ponto de nortear o raciocínio de um sujeito experiente na direção de uma quase abominação. E me pareceu muito convicto, quando disse, creiam, que "área de Comunicação Social do governo deveria acabar". Referia-se, obviamente, à propaganda oficial. E estava certo ao criticar o uso político dela por governantes do momento (Sim, porque, até onde minha lembrança alcança, vai longe isto). Aliás, ninguém a usou tão intensamente como os governos militares (Mourão diz que não foram militares, mas "de militares").

Retorno ao Augusto Nunes. Ninguém me contou e nem vi em vídeo. Eu estava lá quando ele - tal qual um grande speaker, proferiu a expressão de "fechar a Secretaria de Comunicação Social". Usou dois exemplos, e, num deles, deu ares de experiência pessoal ao dizer que nunca teve na conta na Caixa Federal, muito menos sensibilizado pelo "vem pra caixa você também". E quis me fazer de idiota ao dizer que prefere o Santander, que dá 10 dias sem juros no cheque especial do que a CEF. Raso. Suspeito. Tendencioso.

Me diz aí: quem não lembra do "vem pra caixa você também"? Particularmente, nem lembro esta do Santander (quem iniciou os 10 dias se juros, acho, foi o Unibanco. Mas isto não vem ao caso). Me espanta apenas o seguinte: uma, altamente institucional. Outra, grandemente promocional de um determinado produto de um banco. Entenderam que a comparação é boba, apenas servindo de suporte pra tese babaca dele?

Ele foi além no assunto: disse textualmente que numa campanha de saúde, tipo vacina, não precisa fazer propaganda com o Zé Gotinha. Isto é só pra agência ganhar dinheiro e o governo de plantão comprar apoio dos veículos. Que bastaria o governo chamar os jornais, rádios e TVs, que todos noticiariam de graça. Então "tem que acabar" (Dane-se, apesar da propaganda, o baixo índice de cobertura vacinal no país, assim como não se deve dar medicação de graça pra portador do HIV - pensamento do futuro presidente expresso em vídeo).

Aqui faço um gesto simbólico... Ajoelho-me e rogo aos céus que não deixe este cara ser secretário de Comunicação Social. Não pode. Não deve.

Infelizmente - repito, infelizmente, a menor célula da federação, a prefeitura gera direta e indiretamente receita para o governo. Assim como o governo gera para a União. A concentração histórica de recursos na mão do estado, fazem-no obrigatoriamente emulador da economia, incluindo-se aí os meios de comunicação. Não se resolve o problema do namorado na sala sozinho perigosamente com a filha tirando o sofá dela. Assim como não se resolve o problema da compra de apoio institucional com a verba oficial, acabando com mídia emuladora. Ou, no dizer deste arauto, acabando com a Secretaria.

Lamentável que a estultice chique dos nossos tempos atinjam, também, jornalistas, mesmo deste naipe, a proporem políticas governamentais desta forma. Não sei dizer se o País ainda corre o risco de tê-lo perto do presidente. Tomara que não. Mais ou menos como "não queremos este daí".

Iraguassu Farias é diretor comercial de Coletiva.net.

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