A eleição 2020 já começou faz tempo

Por Roberto Schmidt, para Coletiva.net

Para quem quer sair vitorioso, as eleições de 2020 já começaram.

A última eleição foi marcada pela polarização, pelas fake news e pelo uso de dados. Pelo menos, é o que todo mundo diz e não vou tomar o seu tempo escrevendo o que já foi repetido à exaustão. Na verdade, a eleição presidencial do Brasil se mistura com a dos Estados Unidos para alguns dos analistas políticos. Não vamos misturar as coisas.

Temos imensas diferenças que os comentaristas de plantão parecem desconhecer. Como pensam alguns, nos Estados Unidos, a principal rede social é o Facebook. No Brasil, é o WhatsApp, e isso faz muita diferença. O Facebook consegue colher dados e ter muitas informações sobre o usuário. O WhatsApp, não. Ele sabe com quem falamos, datas e horários, mas, a partir desses poucos dados, é impossível prever hábitos de consumo/voto, saber os temores e preferências.

Enquanto nos EUA a Cambridge Analytica prometia 5.000 pontos de informações sobre 50 milhões de cidadãos (vide Privacidade Hackeada no Netflix), aqui no Brasil, existem empresas com vários números de telefone inundando os grupos de WhatsApp com todo tipo de conteúdo. Realidades totalmente diferentes. Aqui, a força estava com quem tinha maior potencial de compartilhamento. Nos EUA, o grande diferencial da campanha de Trump foi entregar a mensagem desejada para o público escolhido, explorando seus medos e anseios.

Enquanto alguns discutem em suas bolhas de realidade no Facebook, nos artigos de jornais, a verdadeira eleição parece acontecer no "submundo" das mensagens compartilhadas pelo WhatsApp. Silenciosa, longe dos holofotes dos comentaristas da televisão. Aquele candidato ou assessor de imprensa que só se preocupar em responder tudo que sair no jornal ou posts do Facebook corre o risco de estar se desviando do alvo.

De acordo com Pippa Norris, professora de Ciência Política em Harvard, "as novas formas de mídia estariam permitindo um retorno das campanhas ao nível local e a uma forma de organização descentralizada, com a estruturação de estratégias específicas para determinados públicos".

Está na hora de falar diretamente com seus eleitores. A eleição de 2020 não vai ser decidida pelo meio, mas, sim, pelas ideias. Pelo propósito, pelo conteúdo criado. E, antes de mais nada, pelo potencial desse conteúdo ser compartilhado. Tal como aquele estagiário que chega na agência e diz que teve uma ideia: vamos botar um comercial de dois minutos no Fantástico. Mas pra falar o quê? Qual o conteúdo? O que as pessoas vão falar no dia seguinte? Qual a conversa que fica? Temos que criar conversas. Não estamos falando mais de storytelling, entramos no universo do storydoing.

A campanha de Bolsonaro foi competente no sentido de ter assuntos compartilháveis. Ora falando de segurança, ora usando o sarcasmo com arma ácida contra seus adversários. Era um candidato vazio para alguns, mas pensando só do ponto de vista da comunicação, ele era cheio de conteúdo. E conteúdo de fácil compreensão. Você pode até discordar dele, mas não pode dizer que não entendeu o que ele queria comunicar.

Esse vai ser o desafio das campanhas de 2020.

Como criar causas compartilháveis?

Antes de mais nada, o candidato precisa ter muito claro o motivo pelo qual ele está se candidatando. Candidaturas vazias serão as primeiras a morrer. Tem que estar muito claro qual o propósito, qual a intenção do candidato para a prefeitura ou para a câmara de vereadores.

A eleição de 2020 vai ser a das causas, das bandeiras. E não falo de bandeiras partidárias, falo de envolvimento e engajamento. Produzir comunicação política é muito mais eficiente se tiver propósito, o complicado mesmo é comunicar o vazio. Ter uma causa é algo que não demanda horário gratuito na TV, não demanda folhetinho, nem página oficial do Facebook. Só demanda uma grande vontade de mudar alguma coisa e engajar os eleitores.

Óbvio que tudo pode ser muito bem construído, com inteligência, bom gosto e muita criatividade. Na eleição das ideias, serão indispensáveis ótimos profissionais de criação. Comunicar uma causa não é simples. Demanda mais trabalho e atenção do que aquele pouco tempo no horário eleitoral gratuito, mas com certeza esse é o caminho para quem pretende sair vitorioso nas eleições de 2020.

Roberto Schmidt é publicitário

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