A hora mais sombria da humanidade: salvar vidas ou empregos?

Por Carlos Tiburski, para Coletiva.net

 

"Esses ídolos medíocres reinavam sob um céu espesso nas encruzilhadas sem vida, brutos insensíveis que bem representavam o reino imóvel em que havíamos entrado ou pelo menos, a sua ordem última, a de uma necrópole em que a peste, a pedra e a noite teriam feito calar, enfim, todas as vozes".
(Trecho de A Peste, de Albert Camus, 1947)

Quando o obscurantismo alia-se ao oportunismo é isso que ocorre. Exclusão nas reuniões do governo do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (Democratas), uma das poucas vozes sensatas neste momento, para dar vez a um senhor que há poucos dias manipulou dados e informações sobre a quarentena como forma de combater a disseminação do Covid-19. 

Encontraram-se em seus interesses escusos. O discurso de ódio, tática adotada desde sempre pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), agora se alia ao do deputado federal, Osmar Terra (MDB), em sua campanha para verticalizar a quarentena maquiando e até adulterando dados oficiais. Foi desmascarado nas redes sociais em menos de 30 minutos. Rosane de Oliveira, do jornal Zero Hora, foi uma das que rapidamente corrigiu o deputado. 

Falso dilema!

Em recente declaração o Secretário Geral da OMS, Tedros Adhanom, afirmou que cada país deve avaliar em que fase a proliferação do vírus está e ajustar sua estratégia para alongar a curva de contágio. Afinal, é somente isto que estamos fazendo. Evitar um colapso no sistema de saúde para que os casos mais graves possam receber o atendimento necessário.

Ponderação lúcida surge de onde menos se espera. O Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou para o falso dilema que vivemos justamente em "uma das horas mais sombrias da humanidade": salvar vidas ou empregos? A declaração foi publicada no jornal britânico The Telegraph. Segundo a diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva: "Salvar vidas ou salvar meios de subsistência. Este é um falso dilema - controlar o vírus é, quando muito, um pré-requisito para salvar meios de subsistência". Vulgo, gente morta não paga conta! O apelo segue ainda lembrando que uma ação está associada a outra, "proteger a saúde pública e deixar que as pessoas retornem a seus trabalhos caminham de mãos dadas". Primeiro a saúde pública, depois a economia.  

Em meio há tantas correntes de pensamento e interesses, devemos optar pela ciência e conhecimento para nos conduzir por este 'vale de lágrimas'. Ato da mais alta bravura em tempos obscuros. Jejum é bom, saudável, necessário e recomendado, mas não deve ser confundido ou mesmo usado como promessa de salvação para o vírus Covid-19, onde não há vacina ainda. Entre pandemias e pandemônios o presidente até tenta! É decreto dia sim, dia não apenas para incluir as igrejas como serviço essencial. As lotéricas, desde que com vidros a prova de bala, entraram nessa por mera distração para restabelecer os proventos dos mercadores da fé, o dízimo abençoado! Afinal, a bancada evangélica é uma das poucas que se mantêm fiel ao Jair Bolsonaro. E sobre fidelidade, nem mesmo com o oportunismo estrutural do MDB, o deputado Osmar Terra tem o apoio do partido nessa jornada para verticalizar a quarentena.

A promessa dos aflitos

Em Gênesis 12-17, Deus faz um pacto com Abraão onde mesmo com 99 anos e sua esposa Sara, 90, teriam mais um filho. O pacto foi selado pelo sinal da circuncisão e o nascimento de Isaque cumpriu a promessa. Desde Abraão, o pai de multidões, que transita em nosso crençário judaico-cristão a ideia do impossível. Que para Deus nada é impossível, nem se discute. Apenas a sua própria existência, mas isso é outra discussão. 

Vencida a resistência de que para uma inteligência superior, nada é impossível, nos debruçamos agora nas promessas de como o governo e o presidente Jair Bolsonaro irão aliviar e mitigar o sofrimento dos aflitos? E mais! O momento do Covid-19 no Brasil é o adequado para aplicar a verticalização da quarentena? Em que dados, informações são baseadas essa decisão? Ao que parece Bolsonaro e Terra estão de mãos dadas na contra mão do mundo ignorando a ciência e todas recomendações de órgãos internacionais: OMS, ONU, FMI... Nem Trump teve culhão para contrariar o senso comum. Respondido isso, ficará fácil garantir para a população que é seguro voltar às ruas para trabalhar e movimentar essa engrenagem. 

Aliás, este momento da humanidade sem precedentes, está servindo para atestar a veracidade de muitos textos apócrifos que circulam nas correntes de WhatsApp, bem como colocará por terra tantas outras fake news sobre teorias da conspiração. E quando tudo isso passar, porque irá, poderemos afirmar sem medo: quem realmente movimenta a economia é o trabalhador. E se o trabalhador tudo produz, a ele tudo pertence.

Fontes consultadas:

Agência Brasil
https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2020-03/veja-medidas-que-cada-estado-esta-adotando-para-combater-covid-19

O Globo

https://oglobo.globo.com/mundo/oms-fmi-dizem-que-ha-falso-dilema-entre-salvar-vidas-salvar-empregos-1-24349271

https://oglobo.globo.com/brasil/mandetta-chama-de-osmar-trevas-ex-ministro-convidado-para-reuniao-de-bolsonaro-com-medicos-2-24350651

Câmara dos Deputados

https://www.camara.leg.br/noticias/646493-aprovado-o-decreto-que-coloca-o-pais-em-estado-de-calamidade-publica/

Bíblia Sagrada
Livro do Gênesis, capítulos 12 a 17.

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