Assessor de imprensa não é distribuidor de release

Por Alexandra Zanela, para Coletiva.net

Você, assessor de imprensa, responda rápido. Quanto tempo você: 

  1. Gasta escrevendo releases? 
  2. Passa estudando o jornalista ou o veículo?
  3. Usa para negociar a pauta?
  4. Investe se relacionando (além da venda de pautas) com os profissionais do mercado?

Se a resposta à pergunta 1 for a que mais consome seu tempo, algo de estranho não está certo, como dizia minha avó. Em um mundo completamente acelerado como vivemos, com modelos mentais no 2x (sim, eu sei que você também escuta áudios do WhatsApp na velocidade 2), não faz nenhum sentido assessor gastar mais tempo escrevendo longos textos - que dificilmente serão lidos pelos jornalistas - do que estudando o tema, olhando a concorrência, buscando oportunidades e negociando a pauta.

E eu não estou dizendo que é o fim do release. Minha provocação é sobre calibrar o gasto da nossa energia para sermos mais eficientes - ou seja: emplacarmos mais conteúdos em espaços cada vez mais nobres. Os releases continuam sendo importantes, mas não são mais os 'abre-portas'. Não tem efetividade enviar rotineiramente textões para uma lista enorme de profissionais. No máximo, você vai ganhar um ponto a mais no ranço do jornalista com as suas indicações. Sem contar que ninguém vai dar espaço grande para algo que todos os veículos darão. Exclusividade é o que os veículos e jornalistas querem. 

Mas, voltando ao release, o texto longo é riquíssimo para o pós-venda da pauta. Enviar para o jornalista que, de fato, ficou interessado no conteúdo, todos os detalhes, organizados hierarquicamente para facilitar a vida do profissional, é o que eu acredito que seja uma das forças da assessoria de imprensa em 2023. Primeiramente você entende o veículo ou o profissional, aí entra o relacionamento e, somente após isso, é que a venda da pauta tem chance de ser bem sucedida. 

Me permitam aqui fazer um parêntese sobre abordagem. Cuidado com envio de mensagens via WhatsApp para profissionais que você ainda não tem contato. Muitas vezes, esses telefones são particulares. Se é uma primeira aproximação, tente pelo e-mail oficial, se não tiver retorno, tente o telefone fixo das redações - sim! este aparelho arcaico ainda funciona, minha gente. O mesmo cuidado na abordagem vale para as redes sociais, pois jornalistas têm vida fora do trabalho. Fique atento aos recados enviados para o inbox de redes particulares, e, se essa for sua única alternativa, por favor, cuide do horário do envio. 'Olá, tudo bem?' às 22h não dá! 

Nas últimas semanas tenho lido muitas reclamações de colegas de redação dizendo que seus números de telefone têm sido jogados em grupos públicos de redes sociais e de mensageiros. Isso, além de ser deselegante, fere a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). E aqui você ganha mais um ponto no ranking do ranço caso você se torne um distribuidor de contatos.  

Inclusive, enquanto escrevo este artigo, o telefone de um profissional aqui do Rio Grande do Sul é amplamente divulgado em um grupo. 

No fim de 2022, quando ganhei o prêmio de Assessora do Ano, pela Associação Riograndense de Imprensa (ARI) - vendo o meu peixe, sim, porque a conquista me trouxe muito orgulho -, esse pensamento sobre a calibragem no fazer assessoria ficou mais latente para mim. Ao estar entre os 5 finalistas, me via mais como uma pessoa que faz muito relacionamento do que uma assessora de imprensa. E o prêmio acabou unindo as pontas que me faltavam para entender que assessoria e relacionamento são pares e precisam andar juntos. Um não vive sem o outro.

Eu sou assessora há 9 anos, desde que decidi sair da redação e abrir a Padrinho Conteúdo e Assessoria. Mas não sou uma assessora 'de cartilha' - fui forjada do outro lado do balcão, do lado de quem demanda. E, por conta disso, fui desenhando esse caminho a partir do meu conhecimento de redação/comportamento dos jornalistas e observando o mercado e suas mudanças. E a cada dia que passa, tenho mais certeza de que assessoria de imprensa é puro suco de RE.LA.CI.O.NA.MEN.TO. 

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Sobre o prêmio de Assessora do Ano. Ele é promovido pela Associação Riograndense de Imprensa, uma das entidades mais antigas do país. A votação é aberta e jornalistas de redação, da Capital e do Interior, é que indicam seus nomes. O mais lembrado leva o que eu chamo carinhosamente de Arizinho. 

Alexandra Zanela, sócia e diretora de Relacionamento da Padrinho Conteúdo e Assessoria e Assessora do Ano (2022) pela ARI. 

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