Convivo com uma enciclopédia de 1m78cm e 90 quilos que, na manhã desta quarta-feira (07/04), ao perguntar quais eram os trend topics do dia, soube da polêmica dos cabelos do João no Big Brother. Sem ter detalhes de como o parquinho tinha pegado fogo no reality show mais assistido no Brasil, ele ligou o tal modo enciclopédia.

Lembrou, gentilmente, que a evolução das espécies determinou o crespo dos cabelos dos afrodescendentes. Foi a resposta da incipiente capacidade de adequação dos seres ao sol causticante da África, onde a ciência atesta o surgimento dos primeiros hominídeos, em terras a perder de vista sem um abrigo para fazer sombra ao cocuruto. O cabelo crespo estabelece uma camada de ar com poucos centímetros entre a cabeça e o ambiente, atuando como um mecanismo de refrigeração e alívio diante das elevadas temperaturas no continente.  E o formato do fio em mola ou em Z funciona como uma proteção extra ao couro cabeludo.

A partir de sua fala de mais de cinco minutos em horário nobre, na terça (06/04), o apresentador do Big Brother, o jornalista Tiago Leifert, se converteu em um das pessoas mais comentadas e ovacionadas no Twitter e foi trend topic madrugada a dentro. A seu jeito também uma enciclopédia pela maneira didática com a qual abordou o tema, resgatando a simbologia do movimento Black Power passando por filme de Spike Lee, Tiago colocou o dedo na ferida do racismo com sensibilidade e firmeza. Mas pareceu que o eliminado Rodolffo não teve a percepção de que toda a conversa não era sobre cabelo bonito ou feio. 

Este texto e a manifestação engajada de Tiago também não. São sobre olhar para o outro e ouvi-lo, ter a humildade de se informar e de se deixar informar - não manipular. Informar e formar, aliás, estão entre os verbos que sustentam a profissão de fé dos jornalistas, cujo dia é assinalado por este 7 de abril. Com escuta e informação, fica-se sabendo que o cabelo crespo dos afrodescendentes, definitivamente, é sinônimo de força e resistência diante das intempéries, seja as da natureza ou as artificiais, provocadas pelo preconceito e sectarismo do próprio homem.

Catia Bandeira é jornalista e sócia-diretora da CDN Sul.