Da enchente à urna: a metamorfose do eleitor

De Lucas Dalfrancis, para Coletiva.net

14/10/2024 14:55 / Atualizado em 14/10/2024 14:54
Da enchente à urna: a metamorfose do eleitor

A lua tem quatro fases ? ciclos previsíveis. O ano tem quatro estações que marcam o tempo, moldando o comportamento natural. A política também é regida por mandatos de quatro anos, abrindo uma oportunidade de alterar o curso da vida coletiva. Porém, a mudança neste transcurso não parece um caminho obrigatório. E isso, nós testemunhamos.

Esta não foi a eleição da esperança, mas da segurança. Quem poderá me socorrer quando a enchente chegar? Não é o Chapolin Colorado, mas o prefeito. Como zelador da cidade, esse ator precisa inspirar confiança ? e a opinião pública compreendeu isso após o colapso. Calejado, o gaúcho não vota apenas pelo desejo inspiracional de um futuro quimérico; ele busca proteção e estabilidade em um presente incerto.

A atenção surge após a importância. Você se atenta àquilo que lhe é fundamental ? é da dinâmica natural das coisas. O Brasil despertou, ainda que atônito, para o valor e a gravidade da política. Apesar da gritaria ideológica que inflama e empobrece o debate, o eleitor se tornou uma figura mais inteligente.

Emancipado pela criticidade, o cidadão reconhece em suas cicatrizes que não existem atalhos ou respostas fáceis para problemas complexos. É preciso enfrentar o remédio amargo. Discursos podem ser fakes, mas o trabalho e o legado devem ser genuínos para perpetuar o maior ativo da democracia: a confiança.

Prefeitos viscerais que colocaram o pé na água para salvar vidas, que não minimizaram a dor e nem negligenciaram a sua responsabilidade nesta guerra climática, saíram vencedores do escrutínio das urnas. A busca de quem vota não é mais por um sonho, mas por uma guarida construída sobre a realidade. Ressabiado, o gaúcho não quer viver aventuras agora. Quer um prefeito que conheça, reconheça. Um líder que pegue na sua mão e diga: "eu estou contigo".

Lucas Dalfrancis é CEO da Notório.