Dieta da informação

Por Balala Campos, para Coletiva.net

Crédito: Reprodução/ Canva

Se o excesso de notícias negativas já era um fato, tornou-se muito mais explícito após o surgimento da pandemia da Covid 19. Está cada dia mais difícil suportar a carga de pessimismo transmitida pelas manchetes e por âncoras de telejornais, alguns dos quais parecem ter prazer em anunciar novas tragédias e novos sacrifícios para o povo. Incessantemente, sem tréguas, o assunto passou a ser o número de mortes e de contaminados há mais de um ano, diuturnamente.

Precisamos estar informados, sem dúvida.  Entretanto, acreditamos que é possível informar-se sem passar muitas horas à  frente dos noticiários, recebendo, repetidas vezes, aquela avalanche de notícias trágicas. E, sem querer, comecei a fazer minha "Dieta da Informação" - nome de livro lançado em 2012, pelo americano Clay A. Johnson. Passei a controlar o tempo que passaria consumindo notícias - apenas o suficiente - e tentando selecionar o que era importante ou não.

Nesta mesma linha, o jornalista do The New York Times Kevin Roose, em março de 2020, fez importante matéria sobre como acompanhar as notícias a respeito da Covid 19 e cunhou o termo doomscrolling (avalanche de desgraças), que significa consumir permanentemente uma grande quantidade de notícias ruins. Está provado que isto traz consequências para a saúde mental, segundo diversos estudos.   "Precisamos praticar o autocuidado e equilibrar nosso consumo de notícias ruins com tipos mais suaves de estímulo, para nossa saúde e a sanidade das pessoas ao nosso redor", afirmou Roose.

Está provado que notícias ruins dão muito mais ibope do que notícias boas, e talvez por isto a mídia tenha deixado de lado, de certa forma, informações positivas. Mas, neste momento de tristeza global, de medo e preocupações de toda a ordem, será que é preciso estarmos todo o tempo livre a ver notícias de adoecimento, mortes, falta de lugar nos hospitais? 

Cuidar-nos, sim, e muito, tomando as medidas sanitárias adequadas para nos protegermos e aos outros também. Entretanto, parece que faz-se necessária uma dieta de informação, eliminando tudo que for dispensável e permanecendo apenas com aquilo que for essencial.

Cada um tem o direito de escolher como quer enfrentar este período . Acredito, entretanto, que diante de tanto sofrimento e da exposição da fragilidade humana, devamos pensar em alguns modos de nos proteger  para que possamos sobreviver também emocionalmente a esta tempestade.

Balala Campos é jornalista. 

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