Diversidade em equipes de Marketing?

Por Bárbara Fabres, para Coletiva.net em especial Diversidade e Comunicação

Bárbara Fabres - Arquivo pessoal

Em pleno ano de 2023, diversidade no ambiente de trabalho deveria ser um não-assunto. Apesar de avanços importantes terem ocorrido ao longo dos tempos, fatores históricos da nossa sociedade e um contexto atual ainda impactado por barreiras estruturais, resistência a mudanças, estratégias de recrutamento e retenção pouco inclusivas, representatividade limitada em papéis de liderança e vieses inconscientes tornam o tema relevante como nunca e fortemente presente em pautas de empresas, eventos de mercado, matérias e artigos - como esse.

De qualquer maneira, é sabido que quanto maior a diversidade em uma equipe, melhor. E, aqui, quanto maior a interseccionalidade e a multiplicidade das dimensões da diversidade, igualmente melhor - raça, gênero, etnia, idade, orientação sexual e muito mais. Times diversos são mais inovadores, criativos, críticos, construtivos e resolutivos, uma vez que aportam diferentes visões, experiências, backgrounds, modos de pensar. Compreendem as necessidades, preferências e comportamentos de uma gama mais ampla de consumidores e navegam melhor por múltiplas nuances culturais. Pesquisa da McKinsey & Company mostra que organizações com mão-de-obra mais diversificada melhoram financeiramente. Ou seja, a diversidade é uma fonte de vantagem competitiva para equipes e companhias e, portanto, deve ser perseguida e preservada.

Curiosamente, no segmento do marketing e da comunicação percebe-se quase uma "inversão" na diversidade. Embora mulheres tenham sido, historicamente, minoria em empresas e, por sua vez, jovens em estágio inicial de carreira costumem ter mais desafios para se colocarem profissionalmente, esses são os dois perfis mais recorrentes neste tipo de setor. Quem é do ramo ou lida com ele, já normalizou esse seu traço, mas nos coloquemos a refletir de maneira estruturada: por que é assim? Quais os benefícios desse cenário? E os pontos de atenção?

Ao longo das décadas, houve uma mudança significativa nas normas sociais e nos papéis de gênero, resultando em maiores oportunidades para mulheres em vários domínios técnicos. À medida em que os estereótipos de gênero tradicionais evoluíram, mais mulheres seguiram carreiras em diversas disciplinas, principalmente no marketing e na comunicação, por serem tradicionalmente consideradas alinhadas com habilidades como criatividade, comunicação e construção de relacionamentos. Segundo estudos, inteligência emocional, empatia, articulação de ideias, resiliência, adaptabilidade, colaboração, trabalho em equipe, criação de conteúdos e narrativas, pensamento estratégico e perspectiva visionária são outros aspectos predominantes em profissionais mulheres, que têm permitido a elas se destacarem nesses segmentos e no mercado em geral, aumentando sua representação na indústria e ocupando, cada vez mais, altos cargos de liderança. Essas habilidades refletem em alta eficiência para mulheres ao navegar dinâmicas interpessoais complexas e incertas, resolver conflitos, tomar decisões difíceis, lidar com situações de alta pressão, promover uma cultura de trabalho solidária e inclusiva e criar um ambiente positivo, levando a um maior engajamento e produtividade e ajudando a orientar as organizações em direção ao crescimento, à inovação e à sustentabilidade.

Agora, vamos aos jovens. Força de trabalho crescente em empresas e, principalmente nas áreas mencionadas anteriormente, os profissionais da "geração Z" trazem consigo uma série de características específicas importantes para o mundo de hoje. São nativos digitais - portanto tecnológicos, conectados, ágeis, mais em contato com tendências culturais atuais, com perspectivas inovadoras, arejadas e empreendedoras. Criativos, comunicativos, passionais, adaptáveis, pragmáticos e práticos, os jovens tendem a ser mais autênticos, espontâneos, agregadores, pró-ativos e multitarefas. Valorizam autonomia, horizontalidade, interatividade, colaboração, aprendizado e trocas constantes, construção de carreira e equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. Segundo estudos, "os jovens Zs estão em busca de consonância entre seus próprios propósitos e os praticados pela empresa". Por outro lado, são mais imediatistas, menos adeptos a burocracias e rotinas e têm na falta de identificação o principal motivo que os leva a mudar de emprego, conforme pesquisas sobre o tema. Ou seja, a chegada dessa geração no mercado de trabalho resulta em impulsionamento de resultados, mas também exige adaptação - tanto no ambiente organizacional, como na gestão de talentos.

No Grupo RBS, empresa de comunicação onde atuo há quase 15 anos, o equilíbrio de gênero no quadro funcional geral e a presença de mulheres em posições de liderança são aspectos a serem celebrados. Na diretoria executiva da companhia, quase 60% dos membros são mulheres. Já na área de marketing, onde atuo, em linha com a tendência anteriormente citada, 80% das quase 100 pessoas do time são mulheres, bem como 93% das lideranças do setor e 88% da equipe de comunicação. Já os jovens, são esmagadora maioria no departamento. É admirável ver essa representatividade feminina e a força de profissionais mais novos, mas pensemos: não deveríamos ter mais homens nessas áreas? Faixas etárias mais variadas? A fraca presença masculina e a predominância de pessoas de uma mesma geração não estariam deixando as equipes mais homogêneas e, por consequência, suas entregas menos ricas, plurais e diversas? Estamos buscando para os nossos times colegas de diferentes contextos socioeconômicos ou com diferentes pontos de vista?

Em posição de liderança executiva aos 36 anos, não recordo ter alguma vez enfrentado desafios ou desconfortos por conta de perfil, idade ou gênero, mesmo tendo iniciado a carreira num mundo corporativo complexo, predominantemente masculino e maduro à época. Mas sei que esse não é o contexto de todos. Hoje, celebro o privilégio de trabalhar com times cada vez mais plurais e ricos de vivências, mindsets, visões, capacidade de contribuição. Nossa essência e nossas origens são cruciais para a nossa formação enquanto profissionais, mas sem dúvida nossa postura, habilidades e dedicação devem preceder em qualquer avaliação.

Apesar da evolução que tivemos até aqui, ainda há espaço para maior diversidade nos times de marketing e comunicação. Abraçar uma variedade de experiências e origens pode levar a estratégias mais completas de marketing, soluções de comunicação mais assertivas e uma compreensão mais profunda de diversos segmentos de consumidores. Vale também considerar que quando diferentes departamentos se somam e se inter-relacionam, a pluralidade de perfis, ideias e modos de fazer se potencializa, ampliando resultados. E que quando as pessoas se sentem valorizadas e incluídas, tendem a trabalhar com maior engajamento, colaboração e, consequentemente, com melhor performance. Para auxiliar nisso, as organizações devem promover culturas e ambientes profissionais inclusivos que acolham e valorizem diferentes perspectivas, garantam oportunidades iguais de crescimento e ofereçam suporte aos funcionários. Temos que desafiar preconceitos implícitos, superar vieses inconscientes e reforçar continuamente a diversidade como um valor central. As soluções para esse desafio de criar locais de trabalho mais inclusivos e igualitários não são simples ou literais - motivo pelo qual trago no título deste texto um questionamento, e não uma afirmação. Mas os esforços devem ser conjuntos e contínuos em todos os níveis da empresa, sempre centrados em um simples valor essencial: colocar as pessoas em primeiro lugar.

Bárbara Fabres é gerente-executiva de Comunicação do Grupo RBS

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