Jornalismo e perícia, em busca da verdade

Por Angélica Coronel, para Coletiva.net

Era 7 de abril de 2019. Não fazia, literalmente, nem uma semana em que eu havia chegado à Assessoria de Comunicação do IGP. Alguém me cobrou um card em comemoração ao Dia do Médico-legista - um susto, porque até então, para mim, este era somente o Dia do Jornalista. Descobrir que ambos eram comemorados juntos e que, naturalmente, numa instituição dedicada à perícia os médicos é quem deveriam ser homenageados me trouxe interrogações: meus dias no Jornalismo teriam acabado? Minha vida de repórter sucumbiria à Ascom? 

Dois anos depois, já com a lista das datas comemorativas organizada e o card do dia do legista produzido, vários vestígios me levam a afirmar que não. Meus dias de repórter seguem vivos e atuantes - porque reportar está dentro de mim, e porque em uma assessoria essa tarefa é essencial. É preciso levantar pautas, checar informações, questionar fontes. A rotina é frequentemente alterada por factuais que me trazem a adrenalina daquelas loucas pautas em Porto Alegre e Brasília. As matérias caem também - e me deixam com a mesma frustração do sinal que caiu pouco antes do vivo. A diferença é que não preciso mais fazer enquetes na Rua da Praia pra saber o que o povo acha (no caso, do IGP): a clipagem dá uma boa ideia do que estão falando por aí. 

Costumo dizer que a atividade jornalística e a pericial têm pontos em comum. Ambos buscam a verdade - ainda que com ferramentas e técnicas diferentes. E, para isso, é preciso esmiuçar, perguntar, procurar, querer ver o que gostaria de permanecer escondido. Essência em comum. 

É tudo igual? Claro que não. A necessidade de planejamento a curto, médio e longo prazos de uma assessoria contrasta com o imediatismo da televisão, onde o comum é entregar "um VT por dia" - já fiz um freela em que entregava três VTs e fazia duas entradas ao vivo em sete horas de trabalho. E, se por 18 anos desenvolvi quase unicamente a linguagem televisiva, a Ascom exige muitos outros saberes - fotos, métricas e cards entre eles. 

Então, neste recente 7 de abril, posso comemorar o Dia do Jornalista como se ainda fosse meu, e mandar um salve especial para os legistas. A repórter da perícia - ou a perita jornalista - está feliz. Um dia ainda aprendo a "ler" manchas de sangue, como os peritos criminais. 

Angélica Coronel é assessora de imprensa no Instituto Geral de Perícia do Rio Grande do Sul e ex-repórter na TVE. 

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