Movidos por sonhos (e incertezas)

Por Laura Gross, para Coletiva.net

Talvez você não saiba, ou talvez nem se lembre, mas 'Movido por sonhos' era o lema do Esporte Interativo que foi usado por mais de 11 anos enquanto esteve no ar. Na semana passada, fomos bombardeados com a notícia de que o canal que fazia a transmissão da Liga dos Campeões, encerraria suas atividades. E pode parecer 'louco' nesse nosso mundo da comunicação, mas em menos de sete dias (que separavam uma informação da outra), a Editora Abril informou o encerramento de mais de seis títulos, e com isso 600 funcionários, entre eles, jornalistas, voltariam a fazer parte da grande massa de desempregados do nosso País.

Mas não vim aqui para falar sobre economia, menos ainda sobre a situação atual do Brasil para com sua população carente de oportunidades. A ideia é justamente entender e deixar a vocês o questionamento sobre as formas de comunicar e de levar a informação ao nosso público. Digo isso, porque o E.I anunciou que trará para seus fãs o 'novo'... Um 'novo Esporte Interativo', com muita informação nas suas mídias sociais. Já sobre a Editora Abril, as informações que circulam entre nosso meio, é que, além da dificuldade financeira do Grupo, as revistas que permaneceriam abertas, receberiam ideias de novos projetos para repensar suas formas de comunicação.

O público mudou. Os anos se passaram. As gerações são outras. As formas de passar e de receber a informação/conteúdo, também são outras. Mas vamos ver se vocês concordam... Aí vai um questionamento: você se sente bem informado com 140 caracteres? Preste atenção, eu disse bem informado. Você acha possível fazer uma matéria, em que seja preciso ouvir dois, três, ou até quatro lados/fontes de uma mesma pauta? Vamos levar em conta que cada usuário do Facebook investe, em média, três segundos para decidir se vai seguir vendo um vídeo na rede social ou não. De que forma você acha que essa reportagem ou notícia precisa ser passada para o público para que ele perca, no mínimo, cinco minutos ouvindo (pelo celular, como boa parte da população que consome essa rede social) toda a história que você, jornalista, tem a contar?

Sou apaixonada por mídias sociais. Acredito que a interação entre o público e a empresa ou a pessoa, consegue ser ótima se feita de uma forma bem estudada e criativa. Mas precisamos parar para pensar se essas plataformas de redes sociais que temos atualmente e que, provavelmente, daqui a alguns anos serão/poderão ser essas ou outras várias, conseguem fazer com que nosso público, termine de consumir tal conteúdo e não tenha dúvida alguma sobre o que lhe foi passado. Será que depois ele vai se questionar sobre o que foi apresentado? Será que ele vai entender realmente o que quisemos dizer? Será que ele vai se sentir satisfeito?

E vamos lá... posso até aproveitar para te questionar se tu aí, apaixonado por futebol, gostarias de ver a final da Champions League pela tela do celular ou até mesmo no teu computador. Pois é, o E.I terá a oportunidade de transmitir a Liga, em acordo INÉDITO com o Facebook. Pelas respostas que já ouvi por aí sobre essa pergunta, e que normalmente foram feitas para quem ama acompanhar os jogos, a unanimidade impera: "quanto maior a tevê, melhor". (E nem estou aqui usando o mérito de que o Brasil está em nono colocado como sendo o país com uma das piores internets do mundo)

A Editora Abril, por exemplo, pretende trazer em suas reformulações editoriais as longas entrevistas, como as de perfil, em formato de vídeo. Entendo eu que, se não for pensada uma forma de criar estes vídeos, será maçante e ficará cansativo para o espectador. Mas tenta aí você lembrar quando ia a uma banca, ou assinava um título, folheava uma revista, sentia o cheiro e procurava, primeiro, a matéria que mais lhe chamava a atenção. Depois, alguns insistiam em ler o periódico de trás para frente. Tinha também aqueles que, depois de consumir todos os seus conteúdos preferidos, iam em busca do novo. Você acha que isso pode acontecer com a internet?

Eu não estou aqui para afirmar nada. Estou apenas deixando questionamentos e fazendo com que pessoas pensem comigo sobre as nossas e novas formas de comunicar. Eu acho que todos somos movidos por sonhos, assim como E.I foi, mas ultimamente, temos sido muito mais movidos a incertezas.

Laura Gross é jornalista e repórter da rádio Guaíba.

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