O endomarketing sozinho não faz milagre

Por Tássia Jaeger, para Coletiva.net

Por que as pessoas pedem demissão? Claro que sempre há a possibilidade de terem recebido melhores propostas de emprego sem ao menos estarem procurando por uma nova colocação, mas, em grande parte das vezes, quando recebem essas propostas, é porque já estavam procurando por uma nova empresa para trabalhar. E, se estavam à procura, é porque não estavam mais satisfeitas com o seu emprego atual. Aí, então, voltamos à pergunta inicial deste artigo: por que as pessoas se demitem?

Uma das linhas, há muito defendidas, diz que as pessoas não se demitem das empresas, e sim das pessoas.  Ou seja, elas se demitem dos seus líderes e colegas de trabalho. E esse é um ponto crucial para o endomarketing. Porque de nada adianta empreender esforços para engajar todos os colaboradores, com campanhas de integração e reconhecimento, além de melhoria dos benefícios, se o clima organizacional, em especial, o clima da área - seja ele gerado por falta da afinidade entre colegas ou com a liderança -, for ruim. Daí, pode ser a empresa dos sonhos, com carga horária flexível, espaço para lazer, comida à disposição e seja lá o que for, mas a pessoa não fica.

Falando nisso, outro ponto que faz as pessoas se demitirem é a sobrecarga de trabalho. Tudo é urgente e importante. Pois bem, o profissional vai lá, dedica-se, faz horas extras, entrega a demanda solicitada com esmero. E o que acontece com o trabalho? Nada. Quem pediu para ontem geralmente não dá atenção ao trabalho nem ontem, nem hoje e nem amanhã. Às vezes, fica parado meses. Mas era urgente e importante, oras. Aí, para compensar a loucura generalizada, a empresa vai lá e coloca frutas e petiscos disponíveis na cozinha a hora que quiser, uma mesa de ping-pong, videogame, TV, quadra poliesportiva. Mas como o funcionário vai usufruir de tudo isso, se não consegue dar conta de todas as demandas urgentes e importantes? Oferecer diversos benefícios não garante que esteja sendo oferecida qualidade de vida ao trabalhador.

E, para provar que isso tudo não está saindo da minha cabeça, uma pesquisa do Instituto Gallup com sete mil pessoas mostrou que 50% delas abandonaram o emprego em algum momento de suas carreiras para fugir do chefe e melhorar sua qualidade de vida. E, ainda, que 65% das pessoas se demitem das empresas por não se sentirem reconhecidas. Líderes, Terra chamando!

Vale frisar os pontos de atenção que fazem os funcionários se demitirem dos seus líderes: falta de comunicação, reconhecimento e autonomia, arrogância, e impossibilidade de fazer uso de suas vocações, competências e habilidades. Isso significa que, sem uma liderança inspiradora, comunicadora e flexível, o endomarketing não faz sentido. Portanto, se o seu funcionário se demitiu, desconfie, pois pode ser por sua causa, mesmo que ele nunca te conte isso.

Outro dado que impressiona tem a ver com a quantidade de pessoas que ficam adoentadas e se afastam da empresa por conta do trabalho. Os dados da Previdência Social no Brasil mostram que, nos nove primeiros meses de 2018, houve um avanço de 12% em relação ao mesmo período de 2017 no número de licenças por transtornos mentais e comportamentais adquiridos no serviço. Já o afastamento por depressão e ansiedade, aumentou quase cinco pontos percentuais. Em se tratando de empresas, além dos gastos com folha de pagamento de funcionários inativos, colaboradores adoentados e estressados pioram índices como os de rotatividade e de produtividade.

Mas afinal, o que levou essas pessoas a se afastarem? Dou uma chance de acertar! Isso mesmo: incômodos no dia a dia de trabalho, sobrecarga, falta de reconhecimento, problemas com a liderança, falta de tempo para cuidar da própria saúde - tudo o que já falamos antes.

Para concluir e ligar os pontos desse artigo, peguem esse dado: o Instituto Gallup também revelou que 87% dos trabalhadores do mundo inteiro não estão engajados em seu trabalho.  O que significa que tem algo muito errado com as empresas, conforme exemplos elencados aqui. Lamentável esse cenário, uma vez que, conforme a mesma pesquisa, o engajamento representa 22% de aumento na produtividade, 21% na lucratividade, 10% em retenção de clientes e diminuição de 37% no absenteísmo, 25% na rotatividade e 48% em acidente de trabalho. Outro levantamento do mesmo instituto traz um dado importantíssimo: profissionais motivados rendem 25% mais do que seus pares sem estímulo para o trabalho.

Considerando a relevância do engajamento do colaborador para as empresas, está na hora delas olharem com outros olhos para o endomarketing, assim como exigirem que os líderes sejam menos gerentes e mais líderes. E, é claro, que andem de mãos dadas com a equipe de endomarketing. Porque sozinho, o endomarketing não faz milagre.

Tássia Jaeger é analista de endomarketing e jornalista.

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