O rádio precisa de ajuda

Por Nando Gross, para Coletiva.net

O rádio é o veículo mais consumido pelos brasileiros durante as 24 horas do dia, nos mais diferentes locais, em casa, no trabalho, no carro, na bicicleta, caminhando no calçadão de Ipanema ou correndo na orla do Guaíba. O rádio é o parceiro e o veículo de comunicação que mais atua no processo de formação da opinião pública.

Mas o rádio precisa de ajuda. Não se faz jornalismo de qualidade sem dinheiro e o momento econômico do País impôs uma brutal redução das verbas de publicidade nos últimos quatro anos. E sei que esta é a realidade das emissoras em geral, mesmo as líderes e com mais faturamento, também estão sofrendo os efeitos da crise. O rádio detém no momento apenas 4% da publicidade que circula no País, mesmo sendo o principal veículo pelo qual os brasileiros se informam.

O impacto que as emissoras de rádio sofreram com a queda das verbas de publicidade foi a partir do final de 2014 quando paralisou a economia brasileira. Além disso, as inúmeras possibilidades de investimento nas plataformas digitais, com custos bem razoáveis, trouxeram ao mercado novas alternativas para quem pretende investir.        

As emissoras de rádio correm atrás e criam novos produtos e novas formas de parceria com seus clientes, mas algumas regras do mercado inviabilizam coberturas de eventos importantes que antes eram feitas naturalmente.

Na última Copa do Mundo, a Rede Globo, que detém os direitos de transmissão para TV e rádio, cobrou da Rádio Guaíba o valor de 200 mil dólares, (cerca de 800 mil reais) para que os jogos pudessem ser transmitidos. A copa foi na Rússia, então precisamos somar as despesas de passagens, hotel, alimentação, translado e gastos em geral para os profissionais. Se a narração for feita do estádio, é preciso ainda pagar uma taxa entre sete e 10 mil dólares para ter um posto com assento para três profissionais. Para a Copa América, o valor proposto foi de 50 mil dólares, ou seja, mais de 200 mil reais. E estamos falando de dois eventos com apenas um mês de duração.

Não se trata de nenhuma crítica à Rede Globo, o que o rádio precisa é de uma liberação destes valores ou que seja estabelecido um limite razoável de preços para que possa voltar a competir e fazer grandes coberturas como tradicionalmente fazia. Estamos falando de um veículo essencial para prestação de serviço e utilidade pública e os valores propostos atualmente estão completamente fora dos parâmetros do mercado radiofônico. Algumas emissoras bem tradicionais em todo o País realizaram a cobertura da Copa de 2014 e meses depois estavam anunciando demissões em massa. 

E o curioso de tudo isso é que o público que escuta rádio só aumenta, muda o perfil do consumidor, consequentemente a programação também vai sofrendo alterações e adequações, mas o veículo se fortalece cada vez mais, o que deixa claro que precisamos encontrar soluções para virar este jogo, na medida em que existe o mais importante, que é o respaldo da população.

Uma das soluções seria o Governo Brasileiro criar uma linha de crédito especial para que as emissoras de rádio pudessem adquirir os direitos de transmissões de competições importantes como Copa do Mundo, Olimpíada e Copa América.

Por isso, faço este alerta aos órgãos públicos, para que protejam o rádio e estabeleçam regras que possibilitem o seu retorno às grandes coberturas, peço que as empresas não deixem de olhar para o veículo quando forem pensar em investimentos publicitários e às agências que saiam da zona de conforto e busquem a diversidade, afinal, sabemos que para obter resultados diferentes dos atuais é preciso não fazer sempre a mesma coisa.

Nando Gross é jornalista e gerente de Jornalismo da Rádio Guaíba.

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