Porque tantas gráficas estão encerrando suas atividades?

Por Julio Gostisa, para Coletiva.net

Durante minha carreira internacional trabalhei nos Estados Unidos por mais de 15 anos para a mesma multinacional fabricante de bens de capital da indústria gráfica que existe até hoje, mas trocou de donos e de nome diversas vezes. Todas estas vezes buscando melhoria de margens e pura sobrevivência perante um mercado extremamente competitivo e de margens reduzidas. Passamos por investidores americanos, falência parcial, pedidos de recuperação financeira semestrais, demissões simples, demissões em massa, decepções de colaboradores apaixonados, fuga de funcionários experientes para a competição, envolvimento com executivos de outras multinacionais, grupo de empresas adquirentes inovadoras, abertura de capital total e parcial, investidores chineses e retornamos para as mãos de investidores norte-americanos todos trabalhando com afinco e paixão de dono. Este gigante da indústria ainda existe, sob a tutela de donos alemães. Cambaleando, mas vivo.

Artimanhas semelhantes não estão disponíveis aos 95% de gráficas pequenas e médias existentes no Brasil, pois, em sua maioria, são empresas familiares e sem estrutura e preparo para tantas estratégias de sobrevivência. Tais gráficas sofrem o impacto de constantes e quase semanais reajustes de sua mais importante matéria prima: o papel. Todas estas gráficas sem a menor chance de repassar estes reajustes abusivos para seus produtos, serviços e clientes. As papeleiras justificam seus aumentos baseando-se nos aumentos da celulose (fabricada aqui mesmo no Brasil) no mercado internacional aliado a taxa do dólar que segue subindo. Tudo isso junto contribui para que mais e mais gráficas sigam infelizmente encerrando suas atividades.

Equipes inteiras são destruídas, pessoas e famílias ficam sem empregos todos os dias em nossa indústria gráfica, máquinas de impressão e acabamento retornam usadas ao mercado por preços muitas vezes ridículos, mas por simples necessidade de "fazer a conta fechar". Vida que segue, escuto de muitos gráficos que não conseguiram sobreviver a estes novos tempos. O quadro como um todo não é animador, mas existem oportunidades na crise. As gráficas possuem pouca força em mudar as atitudes e margens das empresas papeleiras, são pequenos barquinhos de papel no meio deste oceano, raramente azul. Portanto, a solução não passa por este corredor. Mas o que fazer?

Por sua vez, os clientes também com seus problemas específicos de competição e margens reduzidas acabam por diminuir suas tiragens e sempre por buscar o menor preço. Não conheço ninguém que trabalhe nestes dias atuais na indústria gráfica na área comercial que não tenha escutado a clássica frase: "Tenho por tanto na gráfica Tal!" Em segundos o orçamento da gráfica Tal está em nosso e-mail, sem a menor dúvida. Todos precisam buscar o menor preço, mesmo sem precisar comparar tipo de papel, acabamento, prazos de entrega ou qualquer outro item importante do pacote que está sendo orçado. Muito difícil falar deste tema, mas ele ajuda, também, a explicar porque tantas gráficas estão encerrando suas atividades no mercado gaúcho. Precisamos falar sobre isso, orçamentos são estratégicos e cada empresa tem seu pacote a entregar e promessas a cumprir.

Minha sugestão é que parcerias sejam criadas, desenhadas e assinadas por um ano inteiro. Isso mesmo, clientes da indústria gráfica pensem grande e longo prazo. Todas as gráficas precisam crescer, todas as gráficas precisam de pedidos com margem mínima e saudável, todas as gráficas precisam pagar pelos boletos de compras de matérias primas, todas as gráficas possuem funcionários, todos os funcionários possuem famílias a sustentar. Todas as gráficas ainda em funcionamento querem sobreviver e entregar produtos e serviços de qualidade. Juntos nós gráficos, competentes agências e importantes clientes podemos ser melhores juntos no pingue-pongue diário e ter uma indústria mais contributiva com nossa economia regional e nacional. Busquem parceiros competentes, comprometidos com a proximidade e com o melhor preço e que nem sempre seja o menor preço.

Julio Gostisa é produtor de vinhos nacionais e diretor comercial da Gráfica Cromo de Bento Gonçalves.

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