Profissão de risco voluntário

Por Caco Belmonte Os estudantes que ingressam na faculdade de jornalismo, em sua grande maioria, almejam a reportagem. Desses, boa parte sonha em ser …

04/04/2003 00:00
Por Caco Belmonte Os estudantes que ingressam na faculdade de jornalismo, em sua grande maioria, almejam a reportagem. Desses, boa parte sonha em ser repórter de tevê, produzir matérias que sejam veiculadas no Jornal Nacional, Globo Repórter, Fantástico ou em qualquer outro programa que tenha repercussão nacional. O jornalista Tim Lopes, gaúcho radicado no Rio de Janeiro, foi assassinado pelo crime organizado com direito a requintes de crueldade. Ele não foi o primeiro, e certamente não será o último. Entretanto, foi preciso que ele morresse para que as autoridades lançassem uma grande ofensiva contra as facções do narcotráfico carioca, que possui inclusive conhecidas ramificações internacionais. Agora, com a guerra no Iraque, jornalistas também estão morrendo, assim como morreram aqueles profissionais que foram vítimas dos franco-atiradores na Bósnia. A cobertura jornalística de guerra está muito longe de ser uma novidade. O que há de novo é a tecnologia utilizada, com maior instantaneidade e realismo na transmissão de imagens e dados. Esse avanço tecnológico, entretanto, não consegue evitar que os profissionais da comunicação sejam mortos em serviço. Nenhum dos colegas jornalistas que morreram foi obrigado a viajar rumo à cobertura que acabou lhes custando a vida. Tim Lopes também não foi obrigado a se disfarçar e trabalhar infiltrado no Complexo do Alemão, comandado pelo bandido Elias Maluco. Ao contrário, ele foi escalado e aceitou a pauta de forma voluntária, movido pelo nobre sentimento da prestação de serviço, visando denunciar os meandros do crime, informar as pessoas e auxiliar as autoridades. Quem, dentre nós jornalistas, não gostaria de correr esses mesmos riscos? Quem, dentre nós, não gostaria de abandonar o ambiente refrigerado das redações e assessorias para ir a campo produzir a grande matéria de nossas vidas? E qual é o jornalista que não sente um mínimo de vaidade ao ver o seu nome estampado naquelas matérias que, muitas vezes, acabam revertendo em prêmios? A morte de repórteres, fotógrafos e cinegrafistas na guerra do Iraque é uma conseqüência resultante do risco que o profissional de comunicação assume de forma consciente. * Jornalista