'Fazer amor' no trabalho é tendência

Por Jorge Barros

Calma, não é o que você está pensando... É melhor que isso! Imagine trabalhar em um lugar que você ama, com pessoas que você ama e fazendo algo que você ama. Nada mal, afinal o local de trabalho é onde passamos boa parte de nossos dias e da nossa vida. Então um trabalho onde há amor seria algo maravilhoso. Isso não quer dizer que você precisa amar seu colega de trabalho da mesma forma que ama sua família, nem que você precisa amar seu local de trabalho ou a atividade profissional que você desempenha da mesma forma que talvez ame estar em casa ou na praia. Digamos que são manifestações de amores diferentes.

Para Humberto Maturana, "o amor é a emoção que constitui as ações de aceitar o outro como um legítimo outro na convivência". Ou seja, amar o meu colega de trabalho ou meu líder ou liderado significa abrir um espaço de interações no qual eu legitimo a presença dele, aceito como válido e importante seu papel e sua existência nessa relação. Portanto, não é uma questão de estabelecer relação passional dentro do ambiente de trabalho, e sim, ser responsável por um clima de amorosidade. Neste sentido, exercer o amor significa aceitar e respeitar a cada um dentro de seus respectivos papéis, considerando todos relevantes e importantes para o resultado geral, coletivo.

Até aí, tudo bem. Mas dizer que o amor passa a ser tendência no ambiente de trabalho é exagero, não é mesmo? Ainda mais em um mundo onde somos, cada vez mais, orientados para resultados ou focados em indicadores de negócio, retorno financeiro e inovações tecnológicas, é utópico acreditar que existe uma tendência na qual empresários e gestores foquem energia para falar de amor, certo? Errado! Ao aprofundar a visão de cenários futuros, chegamos à conclusão que, mais do que tecnologia e recursos de inovação, o principal diferencial das organizações do futuro são características relacionadas às emoções, às relações de confiança entre pessoas e à capacidade de amar. Em evento de inovação recentemente realizado pelo Grupo Bridge (Ibex - Innovation Bridge Experience), especialistas como Sebastián Gaggero, CEO da Escuela Matríztica de Santiago, Traian Bruma, fundador da Universidade Alternativa da Romênia e Celso Braga, Diretor do Grupo Bridge, apontaram as habilidades relacionais, colaborativas e humanizadas como principais aspectos para sustentação do futuro, tanto das organizações, quanto do cenário educacional e social como um todo. O amor e a empatia passam a entrar na pauta das organizações.

E por que isso é tendência? Nos últimos anos, a tecnologia tem substituído boa parte das habilidades, até então, exercida pelos profissionais nas empresas. Em um primeiro momento, recursos tecnológicos substituíram trabalhos operacionais como, por exemplo, trocar atendentes de caixa por uma máquina de autoatendimento. O ser humano passou a se diferenciar então por sua capacidade de conhecimento e inteligência, visto que não era mais tão imprescindível em trabalhos operacionais. No entanto, em um segundo momento, a tecnologia saiu da escala operacional e subiu para o nível da inteligência artificial. Hoje, pesquisas, diagnósticos, produção de conteúdos e diversos outros serviços de inteligência podem facilmente ser feitos por robôs. Ou seja, se até um tempo atrás a inteligência e conhecimento eram os principais diferenciais do ser humano em relação aos robôs que faziam trabalhos puramente operacionais, hoje isso já não é mais verdade, uma vez que até mesmo a inteligência e conhecimento humano podem ser substituídos por inteligência artificial. Então o que vai diferenciar o ser humano no futuro? Para quê e seremos úteis no trabalho? Que competência temos que não é possível ser substituída por um robô? A capacidade de amar, de sentir e se emocionar, em breve, podem ser os poucos diferenciais do ser humano no ambiente de trabalho. A possibilidade de demonstrar interesse genuíno no outro e estabelecer relações de profunda confiança é algo que continua nas mãos do Homem. É por este motivo que a humanização, mais do que nunca, tem entrado no foco das organizações que querem se preparar e se sustentar para este futuro.

Não é impossível que, daqui um tempo, surja um terceiro momento tecnológico, no qual o produto de sua inovação - que já substitui braço e inteligência humanos - tente substituir também nossa sensibilidade. Alguns robôs possuem mecanismos sensoriais brilhantes. No entanto, o ser humano, naturalmente, já é uma super potência sensorial e sensitiva capaz de alcançar feitos inimagináveis. Contudo, subutilizamos essa nossa aptidão, talvez justamente por conta do grande foco que sempre fomos ensinados a ter no braçal ou no intelectual. É provável que, no futuro, sejamos estimulados a buscar autoconhecimento mais profundo e explorar mais nossos sentidos, a sensibilidade inerente ao ser humano e até mesmo a intuição.

Por este motivo, há uma tendência de mudança no foco de desenvolvimento humano. A educação tradicional passa a ficar insuficiente para estas novas demandas que devem priorizar também o autoconhecimento e o desenvolvimento emocional. Alguns sistemas educacionais mais antenados no futuro, já inseriram competências como Empatia em sua grade. Este efeito passa a impactar também as organizações, que devem investir mais tempo e energia em prol de desenvolver, não apenas o conhecimento, mas as emoções dos colaboradores. Isto é mais do que trabalhar inteligência emocional da forma como é mais popularmente conhecida, no sentido de ter controle sobre os sentimentos, autoconfiança e estabilidade emocional. Em algumas situações, a grande vantagem competitiva do ser humano em relação ao robô poderá ser justamente o contrário: seu descontrole, sua emoção aflorada, sua paixão, sua garra diante de um objetivo, seu brilho nos olhos diante de um propósito, ou até seu sangue nos olhos diante de um desafio. Coisas que um robô jamais terá.

Jorge Barros é gerente de Marketing do Grupo Bridge.

Comentários