A Experiênca repartida

Por Antônio Hohlfeldt Já tive a oportunidade, por diversas vezes, de expressar minha admiração e meu respeito não só pela pessoa particular, de professor …

Por Antônio Hohlfeldt
Já tive a oportunidade, por diversas vezes, de expressar minha admiração e meu respeito não só pela pessoa particular, de professor e de inconteste líder, de José Marques de Mello. Seu vanguardismo na exploração de diferentes temas no campo da comunicação social, quer no Brasil, quer na América Latina, sua permanente disponibilidade para repartir com os colegas as pesquisas que realiza, tudo isso faz de José Marques de Mello uma figura absolutamente ímpar, num universo no qual a competição é, em geral, a regra mais constante.
José Marques de Mello encontra-se atualmente numa fase tão maravilhosa, para ele mesmo, quanto produtiva para todos nós, seus leitores e discípulos. É que, ultrapassando certos níveis de experiência, ele começa a dar-se ao luxo de reler-se e revisar seus textos, que volta a publicar, ampliados e amadurecidos. Mais que isso, dispõe-se ainda a desenvolver projetos que, não fossem apresentados por ele, Marques de Melo, seriam considerados dementes, por suas enormes dimensões.
Não obstante, seus projetos, como este sobre a comunicação brasileira, são perfeitamente factíveis, por uma razão muito simples: eles já se encontram virtualmente realizados. Mais claramente: eles se acham disseminados em artigos, entrevistas, resenhas, pequenas conferências que, ao longo de anos, o autor tem produzido, atendendo a convites, aceitando desafios, colocando-se ele mesmo reptos que pretende ultrapassar.
O livro que temos em mãos agora não é diferente. Aparentemente, reúne textos dispersos e díspares. Na verdade, eles se organizam segundo um projeto muito bem amadurecido, em que, para além de uma aparente gratuidade ou descosimento, existe uma prolongada reflexão não apenas teórica quanto prática. Daí que o autor pode dar-se à liberdade de selecionar, organizar segundo critérios muito pessoais e escolher a partir de enfoques extremamente particulares, os quais a experiência profissional se soma à pesquisa acadêmica.
Este novo - literalmente novo - livro de José Marques de Melo, que é, ao mesmo tempo, um velho livro do autor, porque não modifica sua clássica percepção dos fenômenos comunicacionais, antes os amplia e aprofunda, com a perspectiva não só de uma disponibilidade cidadã quanto de uma crescente definição crítica, permite-nos reencontrar o querido mestre de todos nós tão preparado para a percuciente indagação teórica quanto para o relato produzido pela enorme experiência de quem, como ele mesmo relata, optou pela cátedra e a pesquisa. Não se trata, assim, apenas de ler um livro teórico. Mas é a oportunidade de se ler um livro teórico que nasce igualmente da prática cotidiana de quem sabe tanto agir quanto ver, escutar e aprender, com humildade, apreendendo os novos fenômenos sociais e comunicacionais e sobre eles tecendo complexos processos interativos de aproximação com outras experiências pretéritas.
Por tudo isso, este novo trabalho de José Marques de Melo vem marcado por uma vitalidade inigualável. Como um bom vinho, para o brasileiro sulista como eu, quanto mais antigo melhor para ser degustado. Do resgate de Hipólito José da Cosa e Rui Barbosa aos depoimentos sobre contemporâneos seus, das perspectivas teóricas sobre novos gêneros jornalísticos às polêmicas que usualmente nos assaltam, José Marques de Melo, maduro e por isso mesmo compreensivo, de tudo busca girar e transmitir lições, cumprindo, ainda uma vez, sua tarefa maior de mestre: aprender ensinando.
* Antônio Hohlfeldt, atual vice-govenador do Rio Grande do Sul, é professor de Teorias da Comunicação no curso de Pós-Graduação da PUCRS, ensaísta e autor de textos de ficção para crianças e jovens. Este texto apresenta o novo livro "Jornalismo Brasileiro", de José Marques de Melo.

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