A responsabilidade da imprensa

Por Fernando Credidio * Há algum tempo, quando assumi uma posição polêmica – e, por que n ão, corajosa – ao afirmar que não …

Por Fernando Credidio *
Há algum tempo, quando assumi uma posição polêmica - e, por que n ão, corajosa - ao afirmar que não conhecia empresas socialmente responsáveis, na acepção do termo, fui questionado sobre tal asserção por alguns. Comentei, naquela época - opinião reafirmada, posteriormente, nos artigos que escrevi e nas entrevistas que concedi a veículos do terceiro setor, da grande imprensa e da internet - que, sob o meu ponto de vista, existiam apenas três tipos de empresas em relação a esse aspecto: as que adotavam mais políticas de responsabilidade social, as que adotavam menos e as que não adotavam qualquer política.
A denúncia feita pela revista IstoÉ Dinheiro desta semana (edição 301 - 04/06/2003), envolvendo o McDonald?s, acusado de sonegação de ICMS pelo Ministério Público, corrobora sobremaneira minha tese. Seria ótimo se as empresas deste país tomassem este caso como exemplo e prcurassem, daqui para frente, adequar o discurso - costumeiramente cabotino - com suas verdadeiras atitudes, deixando o marketing de lado e partindo definitivamente para a ação.
Infelizmente, o comportamento ético que algumas das corporações procuram enfatizar na intenção de "venderem" para a sociedade e, sobretudo, para a mídia, a imagem de empresas-cidadãs, é ilusório em significativa parte das vezes. Quando era criança, costumava ouvir uma frase de meus pais: "A mentira tem perna curta". Parece que certos empresários e executivos não se dão conta disso. Que pena! Que pena para eles, para as empresas que dirigem, para os seus negócios, para o governo e para os demais stakeholders, notadamente para a sociedade, que continua sendo iludida e ludibriada por ações pirotécnicas e declarações demagogicamente dissimuladas, que nada mais são que espuma e fumaça - por sua inconsistência -, cujos objetivos são encobrir mazelas e a voracidade desatinada pelo lucro, poder e espaços na mídia.
Não tenho dúvidas que, se a imprensa deixar a posição omissa que assumiu em relação à responsabilidade social das empresas e, a partir daí, resolver empreender um jornalismo investigativo, outras máscaras cairão neste terceiro setor, que vem se transformando a cada dia em um grande negócio - para poucos, é verdade - e, mais do que isso, em um palco para a exacerbação de vaidades e soberba.
Deixo claro que jamais procurei o McDonald?s com o fim de propor parcerias, postular patrocínios ou mesmo solicitar algum tipo de apoio às causas que defendi e continuo defendendo nesses 25 anos de atuação no terceiro setor. Minhas críticas não são fruto de retaliação nem são dirigidas diretamente à mencionada empresa, mas ao modus operandi de um conjunto delas, embasadas no mérito que a questão suscita. Portanto, tais reparos seriam os mesmos fossem quais fossem as companhias envolvidas nesses esquemas ardilosamente arquitetados para pilhar uma nação já tão castigada pelas desigualdades sociais. Tal procedimento não pode - nem deve - ser considerado socialmente responsável.
Até quando teremos de conviver com a corruptela e a impunidade, duas das principais responsáveis por continuarmos sendo um país de terceiro mundo!
* Presidente da ONG Parceiros da Vida
Fone/Fax (11) 3341-7195

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