A velocidade com que nada muda...

Por Evaldo Farias Tiburski, para Coletiva.net

Vivemos em uma fase de transição. Um momento histórico quando o caos é uma constante, tanto sob a ótica platônica de desordenação e indiferenciação que, fatalmente, levarão a uma nova organização, quanto pela da Física, ciência que o define como um processo que evolui no tempo e que originará um estado exponencialmente diferente do inicial.

A contemporaneidade - desiludida pela quebra das promessas iluministas de, por meio da razão, compreender e controlar os fenômenos naturais e sociais em benefício da humanidade -, chega à modernidade (líquida, de acordo com Zygmunt Bauman) de forma cada vez mais volátil e disforme, como se fosse um franco-atirador doidaço que atira para todos os lados na esperança de acertar o que não vê... Essa expectativa, no mais das vezes (até já virou meme), é como paçoca: do nada se esfarela...

Na área da Comunicação não é diferente, 'disrupção' e 'exponencial' são palavras de ordem, um mantra proferido por modernos demiurgos que trabalham para reorganizar, pensar, criar, sistematizar e dar forma às atuais e às novas ferramentas de comunicação que estão e estarão (será?) à disposição da sociedade, empresas e marcas. Nitidamente, esse trabalho se apresenta em estágio artesanal, posto que multidisciplinaridade e horizontalidade são valores pertinentes e importantes... O que denota o momento atual é que essas novas formas de fazer comunicação, os novos processos em busca de reprodutibilidade e escalabilidade geram muitas incertezas e ainda não levam à disrupção nem à exponenciabilidade.

Esse é um olhar para a floresta, que enxerga a Comunicação tratada como ferramenta sempre inacabada a serviço da otimização de um conjunto de ações estratégicas que pretendem ter alcance e influenciar pessoas sobre ideias, marcas, produtos, serviços, instituições e até sobre outras pessoas (as eleições já estão aí...). E, com mais uma pitada do bom e velho processo de inovação instaurado no dia a dia de todos (pessoas e organizações): isto é, muitas tentativas, muitos erros e, eventualmente, alguns acertos... Uma cruzada que tem seus muitos ônus pela expectativa de um formidável bônus. A busca por formas passíveis de sistematização e reprodutibilidade para cumprir funções de comunicação. As teorias são muitas, profetas vêm e vão...

É postulado da Física e da Química que, durante os processos de alteração de estados da matéria, as reações físico-químicas e as energias envolvidas tendem à constância. Somente ao final dessas transições é que as grandezas e os vetores sofrem abrupta e exponencial transformação. Novamente, visível paralelismo com o que experimentamos cotidianamente: muita energia envolvida na tentativa de novas 'formas' para comunicar, para vender, para entregar valor, para gerar relevância, para construir indicadores e métricas, para fidelizar clientes, para gerar o melhor ROI possível... E, de fato, assim acontece... Só que das mais diversas formas disponíveis e possíveis. São marca desse tempo, com todos os aspectos positivos e negativos agregados. Mas, ainda, sem os resultados esperados (se é que sabemos quais os resultados esperar).

Buenas, todo esse papo meio esquizofrênico é para dizer que experenciamos a consciência de que a forma como fazemos o que fazemos será totalmente diferente logo ali... Que ainda não compreendemos que ninguém tem ou terá todas as habilidades, insights e conhecimentos multidisciplinares necessários hoje, amanhã e depois de amanhã... Que existe um grande contingente de profissionais (dos mais novos aos sêniores) às voltas com aprender mais e mais rápido para que possam gerar resultados práticos e fazer a diferença a partir desses novos conhecimentos... Que a velocidade com que nada realmente muda frustra expectativas... O próprio meio cria uma espécie à parte das organizações nas quais se encontram: franco-atiradores cada vez mais doidaços que, isolados, trabalham por objetivos distintos ou distantes e atiram em tudo e em todos - cuidado com o fogo amigo...

O olhar que vislumbra a floresta não tem visto as árvores... É um olhar que ainda carece de habilidades e conhecimentos de gestão para canalizar e otimizar toda a energia inerente ao momento de transição, o que poderia transformar franco-atiradores em atiradores de elite (colaboradores engajados). Mais do que fazer entender, função ancestral e relevante da comunicação é empática: é compreender e aproximar...

Evaldo Farias Tiburski é editor gráfico.

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