Alugue um homem branco

Por Braulio Tavares Por falta de emprego eu não morro mais!  No saite da revista “The Atlantic” li este artigo de Mitch Moxley, americano …

Por Braulio Tavares
Por falta de emprego eu não morro mais!  No saite da revista "The Atlantic" li este artigo de Mitch Moxley, americano que mora em Beijing, a quem ofereceram um emprego de mil dólares por semana numa província chinesa de que nunca tinha ouvido falar, trabalhando para uma empresa norte-americana igualmente desconhecida.  Não exigiam experiência prévia (o que era ótimo, pois ele não tinha nenhuma).  Exigiam apenas boa aparência e o uso de terno. O artigo de Moxley não é muito longo, e se eu pudesse o transcreveria inteiro aqui, mas prefiro dar o link ( http://tinyurl.com/25533zx).   Ele explica que o trabalho consistia apenas em viajar, comparecer a reuniões, ler um texto que lhe era entregue, apertar mãos, e sorrir.  Tecnicamente, estava contratado como "expert em controle de qualidade", mas na prática não se tratava disso.  Diz ele:
"E foi assim que eu me tornei um falso empresário na China, um trabalho bem lucrativo para migrantes desempregados. Um amigo meu, um norte-americano que trabalha com cinema, era pago para representar uma empresa canadense e ler discursos defendendo o controle de emissões de carbono.  Outro sujeito viajou para Xangai para representar o papel de comprador de presentes. Recrutar falsos homens de negócios é uma técnica usada por empresas da China para produzir a imagem de quem tem conexões com o Ocidente.  Meu instrutor de chinês, que a princípio ficou de mau humor ao saber quanto eu estava ganhando, colocou assim a questão: - Pois é, exibir estrangeiros vestindo ternos caros dá credibilidade às empresas".
Alugar um homem branco para dar credibilidade a uma empresa oriental pode ser considerado racismo?  Pode ser considerado uma espécie de prostituição semiótica, ou seja, o sujeito vender a própria imagem para usos inconfessáveis por parte de outrem?  Ou o trabalho de Moxley não será apenas um trabalho de ator, interpretando um papel concebido e dirigido pelo grupo que o emprega?  Enfim - contratar gente para dar uma boa imagem não é novidade, basta ver a quantidade de mocinhas bonitinhas, todas bem vestidas, que nos recebem em todo tipo de evento por aí.  O interessante no caso é que Moxley se apresenta como o que não é: finge ser especialista em algo de que não entende patavina.  Mas como é americano, e, mais do que isto, parece americano, ganha mil dólares por semana para ler discursos, apertar mãos e sorrir para fotógrafos.
Dizia Mário Lago: "Eu não quero e não peço, para o meu coração, nada além de uma linda ilusão".  Nosso mundo é feito de aparências, fingimento, fantasias encenadas, espontaneidade coreografada, verdades "fake".  Moxley é tão ator, ou tão pouco ator, quanto os rapazes bonitos e as moças bonitas que aparecem em nossas novelas de TV. Não são atores nem atrizes: fazem o papel de atores e atrizes.  São "fake" e não alugam talento, alugam boa aparência, fingem ser atores para uma platéia que não quer ver interpretação, quer ver "pessoas com boa aparência".

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