"O sujeito dá entrevista pra quem quiser", li no campo de comentários, na página de um amigo no Facebook. Então, vamos aos fatos. Não, a pessoa não escolhe para QUEM conceder entrevista. Dar à fonte essa opção fere o livre exercício da profissão e atenta contra o princípio da isenção. Portanto, estamos falando de decisão que interessa, única e exclusivamente, à chefia de Jornalismo. Se a fonte não aceita as condições apresentadas pelo veículo, ela está no direito de usar da sua liberdade para declinar do convite.
Quem ouviu a entrevista acompanhou o momento em que o candidato condena o controle social da mídia, proposto pelo adversário e afirma: "Imagine se você vai dar uma entrevista para alguém, esse alguém não pode ser qualquer um (...) Isso é o que o PT quer fazer!" Agora, pasmem, isso é o que ELE MESMO FAZIA enquanto concedia a entrevista! Talvez, não contasse que Juremir, Jurandir e Voltaire - os censurados - estivessem no estúdio, com transmissão em vídeo pelo Facebook, e que, no encerramento, Mendelski tornasse pública a sua "condição" para conceder a entrevista.
Mas tão absurdo quanto a possibilidade de um político censurar jornalista é quando um veículo de Comunicação cede à exigência de um candidato, numa bandeja, o direito ao livre exercício da profissão de jornalista em troca de entrevista. É quando um veículo de Comunicação abre mão dos valores que permeiam aquilo que pode se considerar jornalismo de qualidade. Logo tu, Rádio Guaíba, que, outrora, resistiu à ditadura e ousou desafiar a censura (por isso, meu muito obrigada).
O que aconteceu na Rádio Guaíba foi extremamente grave. Hoje, a utilidade pública, a isenção, a pluralidade foram abafadas pelo autoritarismo. Bolsonaro não censurou apenas Juremir, censurou uma emissora e esta, sim, censurou ao menos três de seus jornalistas.
Karen Vidaleti é jornalista e sócia-diretora da empresa Karen Vidaleti Comunicação e Conteúdo.