Boró, o famoso Mauro

Por Eliziário Goulart Rocha Consta que o apelido, Boró, é uma alusão a uma fábrica de surdinas, a qual não sei se ainda existe, …

Por Eliziário Goulart Rocha
Consta que o apelido, Boró, é uma alusão a uma fábrica de surdinas, a qual não sei se ainda existe, mas que se não me falha a memória fica ali na Santana esquina Ipiranga, em Porto Alegre. Consta também que ninguém sabe ao certo há quanto tempo ocupa o posto informal de eminência parda da editoria de esportes de Zero Hora. Versões não confirmadas indicam sua presença por ali desde antes da construção do prédio da Ipiranga com a Erico. A própria editoria teria surgido em seu entorno, como as hoje descontroladas cidades-satélite se criaram ao redor de Brasília. Dados concretos informam que seu nome verdadeiro é Mauro Pacheco Toralles, que a voz justifica o apelido e que ele tem sido o verdadeiro editor de esportes de ZH há algumas décadas.
Ele estava lá, assessorando o Emanuel Mattos, quando comecei na redação, em 1983. Já vinha da gestão Nelson Ferrão e de outras que não recordo, passou pelas de Nilson Souza, Divino Fonseca, pela minha e atualmente pela de David Coimbra. Como um diletante, sempre preferiu o segundo posto, embora qualificadíssimo para ocupar o primeiro, sabedor de quanto a função executiva o empurraria a sucessivas reuniões, exames de orçamento, administração de pessoal etc.
Portador de tal apelido desde tempos imemoriais - pela aparência, ainda é jovem, mas pela experiência parece ter bem uns noventa e poucos -, Boró tornou-se também o autor de um apelido celebrizado na imprensa gaúcha, o de Eduardo Bueno, o famoso Peninha. A história, conhecida de poucos, nunca foi suficientemente divulgada para lhe garantir o crédito.
Era final dos anos setenta. Recém chegara à redação Eduardo, um jovem magro, alto, cabelos lisos e espetados, tão desajeitado quanto talentoso. Pouco afeito a questões práticas, característica que mantém até hoje, adequada às poucas pessoas geniais que circulam pelo mundo, sempre em número bem inferior ao dos que se autoproclamam gênios, Eduardo enfrentava dificuldades com coisas simples do dia-a-dia, como pilotar sem atropelos uma resplandecente Olivetti Lettera 32.
Certo dia, depois de vê-lo tropeçar pela enésima vez em uma cadeira que insistia em ficar no seu caminho, e quase se estatelar em cima de uma mesa igualmente teimosa, Mauro, o famoso Boró, se virou para os colegas e disse: "Gente, contratamos o Peninha". A alusão ao sobrinho do Tio Patinhas era perfeita. Além de atrapalhado, exibia os cabelos lisos e desgrenhados do pato, que além do mais também era repórter da Patada, o principal jornal de Patópolis.
Encaixava tão bem que ficou para sempre. O próprio passou a se apresentar, alguns anos depois, como "Eduardo Bueno, o famoso Peninha". Foi com esta expressão que cresceu no jornalismo, virou ícone da juventude rebelde gaúcha nos anos oitenta e se transformou, de vez, em um personagem. O apelido se sobrepôs ao nome. Até as filhas, seguindo o exemplo dos amigos mais íntimos, o tratam por "Pena". Nos últimos anos, com o estrondoso sucesso dos livros sobre a história do Brasil, ao menos publicamente a situação meio que se inverteu. Agora ele é Peninha, o famoso Eduardo Bueno.
Assim como Peninha, até hoje, às vezes demora a atender quando chamado de Eduardo, Boró nem sempre responde quando falam o nome de Mauro. Em ambos os casos, o apelido foi totalmente assimilado. Boró reconhece a enorme parcela de culpa na trajetória de Peninha, certamente influenciada pelo apelido. Quando o colocou, talvez não imaginasse que aquele garoto desastrado se tornaria um best-seller. Ou talvez imaginasse. Afinal, Boró sempre esteve lá. Sempre soube.
Dedicado a Mauro Toralles, o famoso Boró
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