China: lixão do planeta, mas não por muito tempo

Por Julio Gostisa, para Coletiva.net

Em julho de 2017, o Governo Chinês tomou uma decisão muito firme e importante para seu país, que começou a ser posta em prática somente agora, em janeiro de 2018. A intenção era de não ser mais a lata de lixo oficial dos planetas desenvolvidos.

Então, com este intuito, foi criada nova legislação, que reduz ou quase proíbe a importação de RP (recovered paper, ou mais conhecido como aparas e papéis recuperáveis - notar que não estou falando, exclusivamente, de papeis ou produtos reciclados). Junto com este tipo de importações, muito UW (unusable waste, plásticos, derivados, resíduos sujos, alguns têxteis ou mais conhecidos como lixo-pesado, mesmo a ser reciclado, para ser transformado em papel ou papelão) estava sendo despachado para a China.

Parece muito tempo, mas seis meses neste mundo da reciclagem não é nada. Países exportadores ainda não sabem o que fazer com o lixo e há algumas fábricas da China que sofrem com a falta do produto, pois não conseguem entregar a demanda de caixas de papelão, produtos de papel ou embalagens para a crescente economia chinesa. Desequilíbrio imediato.

Agora, se estava tudo dando certo, por que mudar? Em verdade, nem tudo que chegava era reciclado ou consumido na transformação, e sobravam, aproximadamente, 25 milhões de toneladas de lixo verdadeiro ao ano, os quais estavam acumulados em depósitos na China. Quando o Governo Chinês recebeu informações que este número poderia subir para até 65 milhões de toneladas em 2025, resolveu agir e implementar o bloqueio.

A legislação e fiscalização não ficaram muito claras, o que trouxe dúvidas de quais produtos realmente estavam na lista da proibição, algo que fez com que outros produtos semelhantes também fossem afetados, ou seja, impacto em muitas outras indústrias. Mas, no final, a China muito dependente de RP ficou sem este produto e resolveu agir.

Estoques de RP já nacionalizados começaram a ser queimados, a China foi ao mercado e começou a comprar celulose, começou a comprar papel em boas condições, começou a comprar fábricas e florestas de eucaliptos pelo mundo, fábricas foram fechadas, milhares de pessoas perderam seus empregos e, por fim, começaram a melhorar o sistema interno de coleta de lixo a ser reciclado. Desequilíbrio mundial de preços e cotações de produtos relacionados à celulose e papel! Tudo isso porque construir fábricas de celulose do nada é caro e leva muito tempo para colocar em prática projeto desta monta. Para os chineses, tudo parecia estar resolvido e algumas grandes fábricas até mesmo tiveram lucros exorbitantes com o bloqueio.

Mas e os demais países exportadores de lixo? O que fazer diante do bloqueio? Em verdade, resta torcer para que as restrições sejam reduzidas, removidas ou, simplesmente, começar a estudar formas de reciclar o lixo em casa mesmo, ou encontrar outros países mais pobres ou menos desenvolvidos que a China para começar a enviar seu lixo. Triste efeito cascata, mas pura verdade.

Aqui no Brasil, todas estas mudanças estão afetando algumas de nossas indústrias, principalmente a indústria gráfica e a de embalagens. De forma direta, este apetite enlouquecido dos chineses por papel e celulose esta afetando os preços dos nossos substratos, sejam eles nacionais ou importados. Preços sobem a cada mês, oferta fica reduzida, prazos de entrega de papel não são cumpridos e isto tem impacto direto em nossa economia.

Agora, também sofremos impacto indireto no quesito tissue, do qual celulose também é utilizada para elaboração de papel higiênico, fraldas, absorventes e papel tissue-paper. Itens que entraram no consumo diário dos chineses há muito pouco tempo. Novamente, preços são alterados aqui no Brasil por causa de mudanças internacionais. Em resumo, tudo isso nos faz pensar num problema gigante do planeta: aonde colocaremos todo lixo produzido? Cada país deve pensar no planeta e não em seu próprio quintal.

Conscientização deve ser de todos os seres humanos, está tudo ligado.

Julio Gostisa é diretor comercial da gráfica Artlaser.

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