Comunicação e liberdade

Por Carlos Antônio de Andrade Arnt, para Coletiva.net

Vivemos em tempos de liberdade de expressão nas redes sociais. Vivemos em tempos de policiamento da liberdade de expressão nas redes sociais. As duas afirmações são antagônicas, mas formam a realidade dos personagens do ambiente digital, sejam eles profissionais, consumidores, geradores de conteúdo, marcas e demais instituições que coabitam as plataformas.

Na liberdade, a representação vem pela possibilidade da manifestação de opiniões e posicionamentos. No policiamento, a oportunidade que as redes têm de julgar, avaliar, responder e também de expor o conteúdo de quem publica, muitas vezes além do desejado ou mesmo do razoável. Nesta via de mão dupla, o convívio social e mercadológico tenta ainda se adaptar, conhecer, descobrir a cada dia novas formas de comunicar, e também novas formas de coabitar neste recente cenário da liberdade de expressão.  

Uma vez que os habitantes das redes sociais ainda vivem este aprendizado, o mercado da comunicação também passa por esta experiência. É uma bela oportunidade para o exercício da criatividade, para conhecer melhor o público, para o diálogo. Mas também é um momento onde a exposição revela um novo momento em que o indivíduo muitas vezes colabora através da crítica e também tem o poder de desestabilizar ações com as quais não concorda. O que antes era somente visto com contrariedade, passivamente, hoje pode ser exposto e mesmo combatido por esta liberdade de comunicação.

Onde começa a liberdade de expressão e comunicação de cada personagem, sejam eles pessoas, marcas ou veículos? Onde termina? Ela termina? Esta é a reflexão que devemos fazer: o que este momento traz e agrega. Como lidar com a liberdade que a todos é oferecida, mesmo que por vezes sofra restrições, e, sobretudo como podemos não invadir os limites da liberdade do próximo, uma vez que, junto ao advento positivo desta liberdade, devemos reconhecer que ideias de baixo conteúdo e mesmo retrógradas (e aqui já entro no meu próprio policiamento) são expostas aos nossos olhos nas timelines da vida? Saber viver e conviver neste antagonismo é o grande desafio que temos.

No momento em que a sociedade ganha voz nas redes sociais, um outro momento da comunicação se instaurou, com a admiração de uma nova forma de se conectar, e por que não dizer, uma nova forma de se relacionar pessoalmente e profissionalmente, onde as plataformas de comunicação permitem não só interações sociais, mas de trabalho, de colaboração, de inovação e até mesmo amorosas. E retornando ao início deste texto, lembro da atenção com o outro lado da liberdade, ou mesmo com a exposição de quem, ao aproveitar estas oportunidades de se expressar, deve ter a noção de que reações podem ocorrer e por isto mesmo saber absorver este retorno, com civilidade e sabendo respeitar lados controversos.

Marcas, veículos de comunicação, indivíduos, mercados estão ainda reaprendendo a se comunicar. As liberdades estão em discussão, os debates são cada vez mais acalorados e nossa missão, como profissionais e indivíduos, é participar e contribuir para que a independência não se perca, mas também para os limites da civilidade não extrapolem. Devemos aproveitar este momento para trazer algo de novo e absorver estes novos formatos de convívio. Liberdade de comunicação sempre, com respeito ao próximo.

Carlos Antônio de Andrade Arnt é professor na Universidade de Caxias do Sul e no Centro Universitário Metodista - IPA.

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