Coração de jornalista

Por Emanuel Gomes de Mattos Em seu livro “O papel do Jornal”, cuja primeira edição foi publicada em março de 1974, e que todo …

Por Emanuel Gomes de Mattos
Em seu livro "O papel do Jornal", cuja primeira edição foi publicada em março de 1974, e que todo o comunicador deve ter à mão, o grande jornalista Alberto Dines abordou magistralmente alguns dos principais aspectos da profissão. Quase 30 anos depois, mesmo com o advento da Internet e de toda a modernidade introduzida nas redações, suas palavras permanecem tão atuais que seguidamente recolho ensinamentos que merecem ser reproduzidos.
Exemplo disso consta na página 116 desse livro que me acompanha há tanto tempo, onde ele afirma: "O jornalista se relaciona com o leitor como um psicanalista com seu paciente, um marido com sua mulher, o pai com seu filho. São espelhos um do outro, reflexos, continuações, interações, parte, enfim, de um mesmo processo. Jornalista é o intermediário da sociedade".
Faço essa citação a propósito do último dia 15 de setembro, quando o Grêmio Futebol Porto-alegrense, clube do meu coração, completou cem anos de existência. Há muito tempo, por hábito da profissão, imaginava como se poderia prestar uma homenagem à altura. Fatos com datas marcadas são desafiadores, anda-se geralmente no fio da navalha, pois exigem criatividade, a fim de não cair na mesmice ou pecar pela bizarria. Aos amigos costumo afirmar que o ônus de quem cria é escorregar na banana. Ou seja, o risco da bobagem permeia a ousadia.
Pois na tão esperada data, tive o cuidado de ler, assistir e escutar as principais coberturas prestadas à efeméride nos veículos de comunicação do Rio Grande. Meu modesto veredito, com todo o respeito a quem se envolveu nessa empreitada, é que nenhuma homenagem foi melhor, ao menos em criatividade, do que a página publicada a pedido do maior rival gremista, o Sport Club Internacional. O texto intitulado "Velho Grêmio!!", assinado pelo presidente colorado Fernando Carvalho, vale a pena ser reproduzido pela beleza e elegância de seu conteúdo.
Todos que o leram emocionaram-se. Passado o impacto inicial, houve a curiosidade geral em busca do autor. Afinal, ali está contido o conceito do imortal homem das letras Otto Lara Resende: "Escrever bem é pensar bem". Ou como sintetizou Alberto Dines: "Há escritores imbatíveis na graça, leveza ou precisão de linguagem. Mas há um número imensamente maior de jornalistas cujo contato diário com pessoas, idéias, emoções ou fatos, os torna lúcidos pensadores e exemplares expositores". Ora, vários profissionais em nosso meio podem se enquadrar nesses quesitos.
Mas a pista decisiva veio com a seqüência da lição transmitida pelo mestre Dines: "É por essa razão que saem das redações de jornais e revistas (e não das emissoras de rádio e TV), políticos, administradores, historiadores, críticos sociais, artistas e filósofos".
Tal constatação levou os mais argutos, como Nilson Souza, que coordena a Editoria de Opinião de Zero Hora, a decifrar o autor, que não poderia ser outro, por englobar todas as qualidades citadas acima: Ibsen Pinheiro. Acertaram o alvo. Era seu o mérito, desde a concepção.
Ibsen já foi praticamente tudo o que se pode aspirar na vida: de vereador a presidente da Câmara dos Deputados e até consta em seu currículo o exercício interino da Presidência da República. No esporte, é extremamente identificado com o Inter. No ano passado, convocado para assumir o comando do futebol em meio a uma crise, impôs um tratamento de choque que evitou a queda do time para a segunda Divisão. Hoje, qualifica como poucos o cargo de secretário de Comunicação do governo do Estado.
Mas é, sobretudo, um profissional iniciado nas antigas redações, onde

perfilaram-se exemplos que, ao longo do tempo, contribuíram para dignificar essa atividade tão nobre. No episódio inesquecível que foi a comemoração dos cem anos do Grêmio, Ibsen Pinheiro demonstrou, pela grandeza de seu gesto, antes e acima de tudo, coração de jornalista.
* Emanuel Gomes de Mattos é jornalista.
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