Cozinha de Jornal

Por Mario de Almeida Em 20 de julho de 1963 eu estava no Rio, a serviço da Ultima Hora, quando Carlos Lacerda, em Porto …

Por Mario de Almeida
Em 20 de julho de 1963 eu estava no Rio, a serviço da Ultima Hora, quando Carlos Lacerda, em Porto Alegre, foi alvo de manifestações populares de repúdio a sua presença. A Brigada Militar baixou o cacete, ou cassetete, nos manifestantes e uma das vítimas foi nosso repórter-fotógrafo de fé, Assis Hoffmann. Entre os pretextos que levaram o Corvo a Porto Alegre - em plena promoção do futuro golpe - estava um congresso ou seminário de saneamento.
Pois bem. Conosco estava Edson Capp, um dos melhores repórteres com quem trabalhei na UH, onde ele era responsável pela cobertura da Prefeitura e assuntos da cidade. Ao voltar do Rio, encontrei Capp guloso de me mostrar um grosso relatório: - "Mario, tenho uma bomba!. O Guaíba está poluído". E estava mesmo.
Nos verões daqueles tempos, Ipanema era um balneário que recebia uma grande população urbana e, inclusive, muitos bares e outros estabelecimentos daquela praia fluvial faturavam alto, durante três a quatro meses por ano. Li o relatório, chamei o Capp, abri uma gaveta onde o coloquei, dizendo para ele: caso eu não esteja aqui, em novembro, tire isso da gaveta e comece a tumultuar a vida das autoridades. Capp soltou um senhor palavrão-homenagem a minha mãe e entendeu o escândalo que, na época certa, aquilo ia provocar. (nunca apurei bem quando, em mim, o jornalista ganhava do cidadão ou vice-versa. No caso, o cidadão perdeu de goleada).
Chegou novembro, o escândalo pipocou, UH vendeu como pipoca e as autoridades tiveram que se virar muito rápido até que a paz fluvial fosse assinada.
Lixo&luxo
Como Chefe de Reportagem da UH gaúcha, eu usava duas cestas de lixo, uma para tudo que não fosse propaganda e outra específica para os releases. Por ser um jornal populista e de briga, a UH faturava muito pouco no mercado de propaganda e tinha grande parte de sua despesa paga pela venda em bancas. Era comum um contato publicitário chegar no fim do expediente comercial e perguntar se eu havia recebido um determinado release. Eu já ia tirando o papel do lixo, copidescando e colocando um aviso para o Paulo Totti publicar pois, em sendo de anunciante, era um luxo só.
* Jornalista

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