Dos jornalistas precários

Por Celso Augusto Schröder Certamente a sociedade e os jornalistas vencerão mais esta batalha contra o obscurantismo promovida pelo Ministério Público de São Paulo …

Por Celso Augusto Schröder
Certamente a sociedade e os jornalistas vencerão mais esta batalha contra o obscurantismo promovida pelo Ministério Público de São Paulo e levada a cabo pela decisão da juíza substituta Carla Rister. Não foi a primeira vez. A anterior ocorreu durante o período Collor, mas espero que seja a última tentativa de desmantelar esta profissão fundamental para democracia do país. A próxima sentença deverá decidir pela suspensão da esdrúxula decisão que só atende aos interesses mais mesquinhos de aviltamento do jornalismo brasileiro. O estrago, todavia, causado pela irresponsabilidade desta decisão, que sequer apontou para alguma forma de procedimento de fornecimento dos registros profissionais, levará anos a ser sanado.
O prejuízo atinge os cursos universitários, seus alunos e ex-alunos, mas, principalmente, a profissão, pelo rebaixamento de expectativa da sociedade em relação à qualidade de informação que deseja receber. É lastimável ver alunos, em término de curso, se sujeitarem a colocar na carteira de trabalho o carimbo de registro precário, que a precariedade da situação legal permite. É assustador ver a verdadeira corrida do ouro de pessoas, sistematicamente vetadas nos seus intentos de possuírem um registro de jornalista, buscarem avidamente este registro precário. Chega a ser melancólico ler a lista das mais de duzentas pessoas usando esse tipo de expediente.
Donos e executivos de empresas de jornalismo não sentiram o menor constrangimento de, ao contrário de seus empregados, não se submeterem ao crivo do ensino superior previsto na lei federal. Famílias inteiras, certamente seduzidas pelo glamour do jornalismo de entretenimento, se inscreveram na profissão. Curiosos, com a única condição que soubessem escrever o nome, acorreram aos milhares pelo Brasil afora. A barbada é tanta que a chefe da Fiscalização da Delegacia regional do trabalho do Rio Grande do Sul não resistiu e se concedeu o mesmo registro, que, afinal de contas, está dando sopa. Pode parecer cômico, se o resultado a longo prazo, mesmo com a vitória certa dos que defendem a formação profissional ética e qualificada, não fosse o desastre que será a longo prazo.
A sociedade poderá levar décadas para se convencer de que este episódio dos jornalistas precários não significará para sempre a existência da precariedade do jornalismo.
* Secretário-Geral da Federação Nacional dos Jornalistas

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