Entrevista ou interrogatório

Por Rogério Teixeira Brodbeck Nesta época de campanha eleitoral em que as notícias e imagens dos diversos candidatos pululam à exaustão na mídia com …

Por Rogério Teixeira Brodbeck
Nesta época de campanha eleitoral em que as notícias e imagens dos diversos candidatos pululam à exaustão na mídia com cada um deles querendo mais e mais espaços nos jornais, rádios e TVs, tenho tentado acompanhar as notícias, informações e entrevistas publicadas com especial interesse não apenas no que dizem os candidatos, suas plataformas, seus planos e suas promessas e idéias, mas também como se comportam os veículos e coleguinhas que editam as matérias e conduzem os debates e entrevistas.
Particular atenção têm me chamado as entrevistas individuais em programas de televisão de grande audiência, como os telejornais da noite, cujos âncoras são profissionais de expressão, e que, não raras vezes, se constituem em autênticas primas donas em seus privilegiados espaços, com comportamentos que se destacam mais do que os entrevistados, assim como no caso do Jô, por exemplo, em que os convidados são meros coadjuvantes porque o programa, como o nome já diz, é "dele". O mais é só figuração.
Na última semana acompanhei algumas das entrevistas feitas no Jornal da Globo pela Ana Paula e pelo Franklin. Em vários momentos fiquei com pena do candidato/entrevistado tal o constrangimento a que, pelo menos dois deles, foram submetidos. Primeiro, Ciro foi literalmente massacrado pela âncora na questão do seu vice Paulinho e de possíveis acusações de que estava, segundo Ana Paula, sendo alvo e a negativa sistemática do candidato que chegou inclusive a lecionar que "denúncia quem faz é o Ministério Público" ante a insistência da coleguinha de que o companheiro de chapa do entrevistado havia sido "denunciado" por fraude na central sindical que dirigia. Dia seguinte, Paulinho era inocentado pelo Ministério do Trabalho, que investigava o assunto administrativamente. Imagino a cara da apresentadora e, mais ainda, a de Ciro, que deveria estar rindo à beça.
Outro que sofreu com os entrevistadores foi Lula, no "Jornal Nacional", pelo casal Bonner e Fátima, num "tiroteio" sem tréguas. Noutro dia, foi Garotinho que padeceu nas mãos, ou melhor, na boca da jornalista que insistiu na tese de uma certa dívida que o ex-governador fluminense teria deixado para sua sucessora. Apesar das explicações, Ana Paula não esmoreceu e voltava à carga, literalmente fuzilando o entrevistado com sua artilharia verbal e intensiva e o interrompendo sistematicamente. Ora, aprendi nos meus bancos escolares do curso de Jornalismo da saudosa faculdade de Filosofia da Católica de Pelotas, lá pela década de 70, que o entrevistador não deve se deixar levar pela paixão nem fazer perguntas pessoais assim como deve deixar o entrevistado o mais à vontade possível e com o tempo necessário para responder às perguntas.
No caso global, o que se viu foi uma sucessão de perguntas com seguidas interrupções das respostas dos candidatos que sequer conseguiam completar suas frases, com visível prejuízo ao raciocínio e à compreensão da explicação, em cenas que mais pareciam interrogatórios policiais cinematográficos do que peças de jornalismo real, ao vivo.
Quanto mais não fosse, tenho isso como falta de sensibilidade e até de educação de tais coleguinhas que se deixam picar pela mosca azul e querem parecer mais do que o candidato que está à sua frente (ou ao seu lado) em rede nacional. Tenho para mim que o jornalista - e foi por isso que os jornalistas foram colocados como âncoras de programas em substituição aos apresentadores tradicionais - deve ser nesses casos como o árbitro de futebol em uma partida: o mais discreto possível, fazendo perguntas pré-elaboradas pela sua produção, mais as próprias, mas sem fugir da objetividade, da imparcialidade e da razão, deixando de lado as paixões, os sentimentos pessoais, as perguntas capciosas e de má-fé evidente. O profissionalismo deve sempre se impor nessas horas em que a estrela é o entrevistado, não o entrevistador.
* Jornalista

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