Está na hora da Comunicação rever sua indústria

Por Mateus Piveta, para Coletiva.net

O título já soa como clichê. Todos falam ou já falaram sobre isso, mas, explorando outras obviedades, o foco fica no mundo pós era digital, que é desafiador. Não apenas por trazer novidades tecnológicas, inovações disruptivas que transformaram a forma como vivemos, mas, por mostrar um mundo novo, repleto de oportunidades e experiências incríveis que desafiavam a imaginação. Muitas dessas provocações vindas dos filmes de ficção científica que marcou gerações. 

É muito claro compreender que esse admirável mundo novo não é tão novo assim. A começar pela própria expressão que é o título em português do best-seller, "Brave New World" lançado em 1932 por Aldous Huxley e mais a frente, ele fez um discurso na universidade de Berkeley, em 1962 ele definiu, naquele ano, que se encaixa bem para o momento que vivemos hoje. Segundo Huxley, algumas inovações ou criações podem causar uma grande euforia nas pessoas mesmo em tempos de crises e adversidades. Hoje o mundo inteiro compartilha de um momento de euforia com todo esse futuro sedutor, mas, não há como negar que para muitas indústrias o momento também é repleto de desafios e turbulência. 

Seguindo a linha, toda essa evolução tecnológica gera uma excitação enorme. Quem lembra da série Jornada nas Estrelas com certeza ainda fica empolgado com a possibilidade de se teletransportar. Ainda não é possível com seres humanos, mas em 1997, um grupo de cientistas do Instituto de Innsbruck, na Suíça, demonstrou que duas partículas podem ter seus destinos ligados. E mais, em 2012 um time de cientistas chineses da Universidade de Ciência e Tecnologia da China, em Hefei, conseguiu teletransportar um 'objeto macroscópio' da Terra ao espaço pela primeira vez na história. Ainda não vamos poder fazer como o Capitão Kirk, mas, pesquisas como contribuem com o conceito de internet quântica. Para resumir, é a visão de uma rede mundial que permitirá com que uma informação chegue a outro lugar do planeta sem ter que viajar por um caminho online. Isso pode mudar completamente a forma com que nos comunicamos. Mais uma grande mudança que poderá transformar mais um vez a indústria da comunicação. 

Todo esse papo de ficção científica para dizer que não existe mais zona de conforto. Não apenas na indústria da comunicação, mas em diversas outras, existe uma valorização demasiada dos feitos do passado e reconhecimentos da própria indústria. É necessário perceber que a história de uma marca ou indústria não consegue sozinha garantir o futuro dos negócios. É muito complicado atingir hoje um resultado exponencial e ser 10 vezes melhor, fazendo as mesmas coisas de antes. Esse "selo exponencial" que muitos almejam é baseado no conceito cunhado e disseminado principalmente por Salim Ismail e Peter Diamandis, fundadores e embaixadores da Singularity University, que proclama, em resumo, como "Organizações Exponenciais" as empresas capazes de gerar impacto positivo em 1 bilhão de pessoas. O conceito de bilionário mudou. 

Diante dessa nova realidade e expectativa de conquista de resultados, é necessário usar e abusar da experiência de surpreender, de criar e de propagar uma mensagem para reinventar a forma de fazer comunicação. Características que trouxeram a comunicação até aqui e a tornaram uma indústria de extrema relevância em todos os momentos importantes da história dos negócios. E hoje, ela deve estar muito mais próxima das transformações vividas e provocadas pelos seus clientes. A era digital convida as empresas a entrarem de forma ativa na prática dos 4 R's e refletirem diariamente sobre eles: 

  1. (Re)inventar o modelo de negócio e razão de existir de uma empresa: O mundo está em constante ciclo de aprendizado e adaptação. Nunca se teve tanta oportunidade de viver o inexplorado com tecnologias cada vez mais acessíveis para isso. As empresas hoje não devem criar apenas novos produtos, são capazes de criar novas indústrias.
  2. (Re)motivar a todo momento equipes e consumidores com um propósito realmente transformador: Pessoas incríveis são capazes de gerar resultados incríveis. O resultado está diretamente atrelado ao poder da lealdade que seus clientes e colaboradores tem com a sua marca e seu propósito. Reconquiste a cada dia seu público.
  3. Renovar constantemente os entregáveis, sejam produtos ou serviços: Fazer a coisa certa por muito tempo pode ser perigoso. Renove sua oferta, seu discurso. Erre, experimente, busque o novo, saia da zona de conforto.
  4. Revisar constantemente como estamos fazendo tudo isso acontecer: Qual experiência estamos gerando? Como ela pode se tornar incrível? Crie um ambiente seguro para experimentação, repense seus processos, revise suas atitudes como líder, como negócio, como pessoa.

A constante evolução tecnológica torna a prática dos 4Rs algo fundamental para qualquer tipo de negócio. Inteligência Artificial já é o novo porta voz das marcas que estão cercadas por robôs, chatbots e outros tantos exemplos. São eles os responsáveis pela experiência no relacionamento entre cliente e marca. Sistemas de computador criam campanhas, filmes e se inserem cada vez mais rápido no ambiente criativo.

Vale ressaltar que o modelo de negócio da comunicação precisa andar mais rápido no caminho da transformação. Algumas empresas se adaptaram, outras ainda resistem e muitas já desapareceram e tantas ainda vão deixar de existir em pouco tempo. Isso todo mundo esta dizendo, o que não dizem com clareza é como enfrentar esse golpe. Falta um movimento fortalecido no mercado da comunicação como em outras indústrias. Há um distanciamento na forma como clientes estão se reinventando e como isso está ocorrendo dentro de empresas de comunicação. 

Trançando um comparativo com a indústria automotiva que ficou 107 anos evoluindo seus cavalos, criando carros e solução para automóveis. Até que em 2003 a Tesla surge provocando mudanças, mexeu em uma estrutura consolidada por grandes marcas, não só na fabricação e funcionamento dos veículos, mas, por entender que hoje se fala em serviços de mobilidade. O paralelo aqui é que indústrias que resistem à evolução, se agarram na sua história e buscam "sobreviver na transformação" e não de fato se transformar. Quem faz isso, cedo ou tarde irá perceber que não haverá mais espaço para essa atitude paliativa. Como a GM e a Ford viram a Tesla superar as duas em valor de mercado em 2017. Como a Nokia, Blockbuster, Kodak e tantas outras também viram seu domínio ruir. Para deixar mais claro, a indústria da comunicação, ainda parece estar preocupada em evoluir seus cavalos. 

Há muito a ser feito e muito caminho a ser descoberto, não é fácil e não é com um texto que isso será conquistado. É preciso unir forças nesse momento. A mensagem de um anúncio da DM9DDB diz que no futuro as ideias boas continuarão sendo boas e a ruins continuarão ruins. O que pode ser acrescentado aqui são mais reflexões como qual a origem da ideia? Quem vai dizer se é boa ou ruim? Como essa ideia será entregue para o público? São as respostas para essas perguntas que estão mudando, são esses os desafios que o mercado enfrenta. Para finalizar, quem ficar esperando a 'bolha passar' pode enfraquecer e ficar sem forças para se recuperar no momento que ficar mais claro ainda que não se trata de uma bolha, mas, a nova realidade. 

Mateus Piveta é publicitário e sócio da consultoria Surya, Gestão para um mundo digital.

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