Foi assim (1)

Por Mario de Almeida Em novembro de 2001, a pedido da 47ª Feira do Livro, a múltipla Ivette Brandalise organizou um Painel, “Teatro de …

Por Mario de Almeida
Em novembro de 2001, a pedido da 47ª Feira do Livro, a múltipla Ivette Brandalise organizou um Painel, "Teatro de Equipe - Casa de Cultura de Porto Alegre". Com a platéia ocupada por muitos contemporâneos do início daqueles anos 60 e por gente bem mais jovem, compuseram a mesa, além de Ivette, Ittala Nandi, Hiron Goidanich, o arquiteto Milton Mattos, Moacyr Scliar e eu, que depois de alguns anos desembarcava na Praça da Alfândega, mais exatamente no Clube do Comércio, onde durante anos morou minha maravilhosa amiga, a jornalista Gilda Marinho.
Naquela noite, ao fim do Painel, um lépido portador de um microfone que eu já reparara estar gravando tudo (ele e o microfone) aproximou-se, apresentou-se - Rafael Guimaraens - e disse que gostaria de escrever um livro sobre o Equipe. Surpreso pela disposição de uma criança daqueles anos 60 para remexer no nosso passado e pelo significado, ainda vivo, do Teatro de Equipe para a cultura portoalegrense, rebati de primeira: - Eu também.
A resposta incluía o impacto das declarações de atuais personalidades de áreas não teatrais, sob a importância daquele teatrinho, na General Vitorino, 312, que passara a ser o telhado da inteligência gaúcha mais avançada. É difícil um coração passar impune por uma declaração pública de um Flávio Loureiro Chaves, por exemplo, que se levantou da platéia e afirmou: "Tenho uma experiência de 30 anos com o Magistério, que me deu conta de podermos encontrar outros professores fora das escolas que nos ensinam coisas que não sabíamos e, neste sentido, quero destacar três pessoas que foram meus mestres: P.F. Gastal, Jacob Koutzii e Mario de Almeida".
Senti, de imediato, que a remota existência do Equipe, se posta em livro, mais que um resgate, poderia ser uma forte dose de alento para uma juventude em busca de respostas. No avião de volta para o Rio, o livro já se desenhava na minha cabeça.
A Internet permitiu que se acertasse os conformes e dividimos as tarefas iniciais. Rafael começou a furungar na Revista do Globo, nos jornais da época e eu a mobilizar os antigos companheiros do Equipe.
Neste primeiro artigo, contarei apenas alguns casos desses quase dois anos de gestação de "Trem de Volta - Teatro de Equipe", visualmente programado pela craque Clô Barcellos e que a Libretos, com o apoio do Fumproarte (Secretaria Municipal de Cultura) lançou no Theatro São Pedro, durante o 10º Porto Alegre em Cena, evento tão bem orquestrado por Ramiro Silveira.
Começarei pela própria abertura do Porto Alegre em Cena quando, além de conhecer o prefeito João Verle e o secretário Municipal de Cultura, Vitor Ortiz, de rever dona Eva Sopher, que eu conhecera quando do lançamento da pedra fundamental do Multipalco, fui surpreendido por Sérgio Mamberti, representando o ministro Gilberto Gil, derramando-se, num minidiscurso, em elogios à minha pessoa e ao nosso Equipe, homenageado no evento.
Ivette Brandalise, que fora atriz do grupo, em sua natural generosidade, ajudou-nos, e muito, das mais diversas formas e foi a primeira protagonista de dezenas de casos onde a memória (falta de) - não fosse o policiamento e ajuda de todo o grupo - teria armado ciladas e mais ciladas. Ivette afirmava que havíamos nos apresentado em Santa Maria e eu respondi que, se fora verdade, eu pagara um vexame muito grande, chegando e saindo da cidade de porre total, pois achava que nunca pisara além da estação. Conclusão: Santa Maria era Bagé!
Milton Mattos resolveu aumentar as "invenções" do casal e jurou que eu havia estado com ele e outros no "El Galpón", conceituado grupo teatral de Montevidéu. Rafael tentou me convencer que eu lá estivera e, quando eu já estava disposto a contabilizar outro vexame do passado, fui salvo pelo Paulo José. Pablito explicou tudo: o pintor Glênio Bianchetti e a esposa, Ailema, mais Nilda Maria, o Milton e ele mesmo, participaram em Piriápolis, Uruguai, de um festival de fantoches. Em Montevidéu, visitaram o Galpón. Eu não estava e, pois, esse porre também não tomei.
Outro "vacilo" foi meu mesmo, mas não de memória. Conheci, trabalhei e fiz grande amizade com Milton Flores da Cunha Mattos, filho de Stella e Her Mattos, ambos pertencentes às mais tradicionais famílias de Livramento e supus, sempre, que Milton era de lá, onde inclusive estivemos juntos. Não é que ele nasceu ao lado da Santa Casa, em plena Porto Alegre?
Ele sabe que odeio falsas ilações e jamais perdoarei essa cidadania que eu nunca soubera? Como ele driblou o óbvio, a culpa é dele, é claro.
* Mario de Almeida é jornalista, publicitário, dramaturgo, autor de "Antonio?s, caleidoscópio de um bar" (Ed. Record), "História do Comércio do Brasil - Iluminando a memória" (Confederação Nacional do Comércio) e co-autor, com Rafael Guimaraens, do recém lançado "Trem de Volta - Teatro de Equipe" (Libretos).

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