Humildade, sempre!
Por Gilberto Jasper, para Coletiva.net
Uma das coisas que mais me incomoda como jornalista é a arrogância de alguns colegas. Há um contingente de profissionais que se confunde - de maneira proposital - com as celebridades que entrevistam ou com as autoridades que assessoram. Muita gente não resiste à mordida da "mosca azul", confundindo os papéis.
O uso covarde de um microfone, por exemplo, é tão injusto quanto as atrocidades cometidas contra as vítimas das redes sociais através das fake news. Não é preciso buscar exemplos distantes.
Nossa categoria é muito refratária a críticas. Temos que admitir: falamos mal de muita gente, mas raros jornalistas suportam comentários desairosos. Gostamos mesmo é de bajulação, "toco", e elogio fácil das fontes que buscam espaço e voz. Quando alguém levanta alguma opinião discordante é prontamente rechaçado. O vivente nunca mais aparecerá na coluna, reportagem ou comentário.
Não frequento o ambiente acadêmico, à exceção de uma ou outra conversa com a gurizada sobre mercado de trabalho, experiência em comunicação e outros quetais. Tenho um filho cursando jornalismo, mas pelo que ouço existe pouca preocupação com o quesito humildade.
Tenho a honra de conhecer o detentor do melhor texto deste Estado, um dos melhores do Brasil. Ele é Nilson Cézar Mariano, colega que se tornou um valioso amigo. Mariano é uma unanimidade - acredite! - no quesito despojamento. Educadíssimo, fala mansa, calmo e didático, deveria lecionar sobre o tema. Apesar dos inúmeros prêmios se mantém acessível.
Não defendo a ideia de pintar o mundo de cor-de-rosa, mas é preciso dar mais espaço para as boas iniciativas.
Também tive o privilégio de conviver com inúmeros estagiários. Vi muitas meninas chorando ao desligar o telefone, resultado da estupidez de calejados jornalistas que se prevalecem da inexperiência da futura colega para dar o famigerado "carteiraço".
Ninguém gosta da críticas, mas é preciso convier com ela. Isso deveria ser normal para nós, homens e mulheres de comunicação, pródigos em gerar conteúdos majoritariamente críticos. Aliás, a imprensa exagera nas matérias negativas.
Não defendo a ideia de pintar o mundo de cor-de-rosa. Pelo contrário. Práticas nocivas, ilegais ou prejudiciais ao contribuinte devem ser denunciadas sem trégua. O que falta é valorizar os bons exemplos. Dizer que "notícia negativa vende mais" é uma panaceia. Afinal, leitores, telespectadores, ouvintes e internautas são inundados com mais de 80% de informações desastrosas. Estão acostumados "com coisa ruim".
Quanto maior o veículo de comunicação, maior o autoritarismo de alguns colegas. Esquecem, muitos deles, que corre-se o risco de destruir biografias, desconstruir trajetórias marcadas pela promoção do bem comum ou simplesmente aniquilar um ser humano.
Ao deixar canais, jornais e emissoras de repercussão por veículos menores ou enveredar por "projetos solo", muitos profissionais tornam-se humildes, reveem sua conduta e arrependem-se da postura anterior, prepotente. Deve-se saudar a admissão do erro, mas os prejuízos causados às personagens de suas reportagens são irreversíveis.
Humildade, sempre!
Gilberto Jasper é jornalista e consultor em Comunicação.