Jornalismo investigativo ou bisbilhotice?

Por Rogério Teixeira Brodbeck O Fantástico de domingo mostrou reportagem feita em Santos-SP a propósito do tema sobre aposentadorias e/ou pensões públicas em que …

Por Rogério Teixeira Brodbeck
O Fantástico de domingo mostrou reportagem feita em Santos-SP a propósito do tema sobre aposentadorias e/ou pensões públicas em que o repórter global foi à procura de algumas velhinhas, viúvas de ex-servidores da Marinha Mercante que, segundo fonte da própria Previdência Social, percebiam altas somas a título de pensões legadas por seus falecidos maridos, os quais haviam servido na época da 2ª Guerra Mundial.
No trabalho, aparentemente de investigação jornalística, viu-se o jornalista batendo em condomínios residenciais e falando em interfones tentando obter a palavra das "vilãs", responsáveis pela bancarrota do erário da Previdência. Não conseguindo seu intento - apenas uma velha senhora concordou em falar, mas não tendo muito o que dizer a não ser que era seu filho o procurador que tratava disso, colheu depoimentos de vizinhos, que disseram que não viam quase as viúvas, e de jogadores de dama da praça, os quais, em tom de blague, afirmaram que não conheciam as velhinhas, mas que gostariam de saber de seu paradeiro?
Afora a gritante violação da privacidade e da intimidade de pessoas - cidadãs, antes de mais nada, como gostam de dizer estes tipos - proporcionada pela adesista e governista rede televisiva, apoiada é claro pelo órgão previdenciário brasileiro, sem o que não conseguiria o indigitado repórter seus nomes e endereços - há que se levar em conta que a matéria ainda contribuiu para revelar ao grande público - bandidos entre ele - o paradeiro de pessoas que ganham boas somas e que, no mais das vezes, são idosas, desprotegidas e que, de agora em diante, deverão se preocupar também com sua segurança pessoal por razões óbvias.
Além do mais, tal reportagem praticamente pouco acrescentou ao debate que se faz no país sobre aposentadorias e pensões. Ou o fato de essas cinco velhinhas receberem entre R$ 30 mil e 50 mil vai mudar o projeto do governo sobre a questão? Ou por acaso alguém desconhecia que há servidores e pensionistas recebendo isso? Só que há um porém: é absolutamente legal essa percepção. Ou seja, está na lei, que foi feita pelos parlamentes, não foi imposta nem outorgada nem fruto de nenhuma Medida Provisória ou decreto-lei (seu similar de outras eras). E o ganho igual ao de que o servidor perceberia se vivo fosse é fruto da Constituição dita "cidadã" por seu idealizador, já falecido e que não viveu para contemplar a criatura que erigiu.
Não será com bisbilhotices desse tipo que o jornalismo tupiniquim contribuirá para revelar as distorções e as disparidades nacionais. Talvez se enveredar por alguns estatutos de certas categorias funcionais poderá se surpreender muito mais do que as "fortunas" das velhinhas de Santos.
* Jornalista e advogado
( [email protected])

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