Meu reino por um cavalo na propaganda

Por João Firme

Quando foi anunciado no teatro da Ospa na Avenida Independência, nos anos 1970, o 'Meu Reino por um Cavalo', obra de Shakspeare, caí duro ao ler que os artistas seriam Paulo Gracindo e Clara Nunes, meus ídolos na juventude.

Por telefone falei com o empresário no Rio de Janeiro para fazer a transmissão pelo rádio e consegui convencê-lo com o argumento de que muita gente poderia assistir e a bilheteria estava garantida. Se isso ocorresse, a temporada dos grandes artistas seria mais rentável, pois com a Propaganda patrocinando a transmissão derivaria um percentual para os artistas, para a Ospa e para a entidade filantrópica.

Deu certo. Convencemos um patrocinador que não sabia quem eram na história cultural e da arte, Shakespeare, Beethoven, Di Cavalcanti, Cleópatra, Rei Salomão, Rei Davi, Rainha Vitória, Verdi, Vila Lobos. Pasmei quando ele me disse que não sabia nada de Érico Verissimo e de Mario Quintana, mas conhecia poesias de Luiz Coronel porque era publicitário e havia pensado procurá-lo para lhe dar a conta. 

A Casa das Blusas era de um empreendedor de visão que comprava bem em São Paulo pagando à vista ou antecipado e, por isso, podia vender por menor preço em Porto Alegre. O dono, Clovis Nunes, criou um departamento de roupas finas para as socialites de Porto Alegre e investia forte em desfiles de modas em chás da tarde para obter fundo para o Instituto Santa Luzia, que realizávamos em clubes recreativos com a rádio Itaí.

Sobre o patrocínio de 'Meu Reino por um Cavalo', fomos assistir e apresentei-o com a minha esposa a Paulo Gracindo e a Clara Nunes. O resultado obtido pela Propaganda com o patrocínio foi surpreendente com a venda de todo o estoque, e ganhei uma viagem a São Paulo para conhecer uma das indústrias de confecções que vendia para o cliente.

Mas os eventos culturais ou de artes conseguem às vezes publicidade em TVs e rádios, um dia ou dois antes das apresentações. Como apaixonado da nossa Sinfônica de Porto Alegre da qual fui associado contribuinte, fiquei perplexo ao ler um anúncio cortesia do Jornal do Comércio (coisa rara) que teria um espetáculo gratuito no teatro do Jardim Botânico, atração verde da capital gaúcha, em 1° de outubro, às 18h. No programa tinha músicas de Beethoven.  Enlouqueci e pedi licença para minha mulher, que me aguenta há 52 anos, e me mandei para Teatro saciando minha saudade desde 1987, quando ouvi algumas músicas preferidas pela Sinfônica de Berlim que veio à cidade de Paixão Cortes nas  comemorações dos 100 anos da Brahma por sugestão da Arauto Publicidade (nossa ex- agência), que teve a conta na Cristóvão Colombo, onde está o Shopping Total, tem a enorme Torre como Patrimônio Histórico Cultural e é atração turística.

Como a Sinfônica de Porto Alegre é do Rio Grande do Sul, o governo devia permitir que a Propaganda divulgasse suas apresentações pelo rádio ou pela televisão, cobrando ingressos e, esses, revertidos para uma instituição filantrópica e, porque não, o Instituto Ver Hesíodo Andrade. A ONG da Propaganda está necessitando de sede própria para atendimento gratuito em crianças com até cinco anos, evitando, com sessões de estimulação e reabilitação, a cegueira precoce. Outros espetáculos também poderiam ser divulgados pela Propaganda desde uma vez que fosse consentido pelos empresários avarentos e compreendessem que os resultados vão beneficiá-los (ele e o artista) e à sociedade que atua na responsabilidade social.

Somos todos Propaganda. Acredite no Brasil. Faça o Bem.

João Firme é publicitário e jornalista. Contato: [email protected]

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