Não diminua quem te faz grande

Por Tássia Jaeger, para Coletiva.net

Há poucos dias, uma amiga que trabalha no setor de Recursos Humanos de uma seguradora, me contou que decidiu trabalhar na área quando, ao cursar a graduação de Administração, se deu conta de que as pessoas são a essência das empresas, afinal, elas é que fazem a engrenagem funcionar. Grande verdade. Mas se isso é tão óbvio, por que então as pessoas não são a prioridade número um em muitas organizações?

Questiono isso porque, se observarmos a maioria dos mapas estratégicos das empresas, veremos que, para se chegar ao resultado econômico-financeiro desejado, a estratégia se inicia na perspectiva de aprendizagem e crescimento, que é justamente a gestão das pessoas, ou seja, o treinamento, o desenvolvimento e o engajamento dos colaboradores, tendo em conta que eles são a base de tudo. Em termos mais simples, só é possível alcançar o resultado que se quer por meio do esforço das pessoas que na instituição trabalham. Portanto, quem deveria ser nosso principal foco?

Colocada dessa forma, parece inquestionável a relevância do endomarketing para as corporações, não é mesmo? Se a meta é X e eu atinjo ou supero ela, quem fez isso? Se os clientes são bem atendidos, quem atendeu? Se a marca é reconhecida como referência no mercado em que atua, quem é responsável por isso? Tudo que a empresa foi, é e será, é graças às pessoas que nela trabalham. Portanto, agradecer a elas reconhecendo-as pelo seu comprometimento e engajamento, assim como solicitar-lhes que deem o seu melhor, é pura e simplesmente parte da estratégia corporativa. 

Feita a introdução, lá vou eu puxar brasa pro meu assado. Se como vimos acima, as pessoas são a força motriz das organizações, a relevância do trabalho de endomarketing passa a ser irrefutável, visto que ele cuida do engajamento do público interno, buscando tirar dele o seu melhor em termos de proatividade, agilidade, resolutividade, criatividade, empatia, cortesia e comprometimento. Comportamentos esses que resultam, além de resultados financeiros positivos, em bom clima organizacional, retenção de talentos, cultura sólida e reputação no mercado.

Dito isso, nada mais ofensivo para nós, profissionais da área de endomarketing, do que dizerem que vamos fazer uma festinha da firma, um jornalzinho ou umas artezinhas para mandar por e-mail. Por que essa mania de desvalorizar e tornar menor a comunicação interna por aí? Se fosse comunicação externa, seria evento, publicação e projeto gráfico, não? É o público interno menos merecedor do que o externo? Se o público interno é que torna a empresa grande, faz sentido colocar no diminutivo o que é destinado a ele? Parece-me contraditório.

Trabalhar com o público interno, muitas vezes, é mais desafiador do que o público externo. Não é sair fazendo qualquer coisa. Endomarketing não é padaria. Tem que ter penso, estratégia e, portanto, planejamento (e tempo), da mesma forma que ocorre (ou ao menos deveria) com o público externo. Não dá para pedir hoje um webcard para enviar amanhã sem pensar em "o que vamos falar?", "por que vamos falar?" e "para quem?". Quem são os líderes (e não chefes) que precisam ser os sponsors das campanhas e informações? Quem são os influenciadores? Qual a variedade de públicos que tenho dentro da minha empresa e como atingir a todos juntos ou separados? Qual o propósito da empresa e a cultura que precisa ser fortalecida? Que canais de comunicação devo usar? Qual o cronograma de execução? Será que todo esse trabalho e tudo que estudamos para sermos profissionais de comunicação interna pode se reduzir ao diminutivo que se torna depreciativo nesse caso?

Um professor recentemente defendeu uma teoria com a qual concordo muito. Está faltando a nós, profissionais de comunicação, nos valorizarmos e nos vendermos como profissionais que somos. Não é porque somos os descolados da empresa, que chamam as reuniões de brain e usam como ferramenta de trabalho redes sociais e referências culturais diversas, que somos menos dignos de respeito como pessoas que estudam e se qualificam para tal função. Sendo assim, fica o meu convite para que a gente não seja cúmplice nessa redução do nosso papel a meros criativos que entregam artezinhas, jornaizinhos, festinhas. Somos os que criam a experiência do colaborador. Ou se preferirem, Employee Experience, já que o uso de termos em inglês tem se mostrado uma alternativa para sermos mais levados a sério.

Tássia Jaeger é analista de Endomarketing e jornalista.

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