Narrador ou torcedor?

Por Rogério Teixeira Brodbeck Desde que comecei a dar os meus primeiros passos no radiojornalismo esportivo, lá pelos idos de 1960 na bela Erexim, …

Por Rogério Teixeira Brodbeck
Desde que comecei a dar os meus primeiros passos no radiojornalismo esportivo, lá pelos idos de 1960 na bela Erexim, pelas mãos do sisudo Euclides Tramontini e bem orientado pelos dedicados Célio Osório Coimbra, Francisco Basso Dias, Milton Doninelli, Dolcimar Luiz Gonçalves e tantos outros da Rádio Erexim, então uma "Emissora Reunida", já aprendi que a atividade era coisa séria e que não se poderia ter bandeira nem camiseta.
Quando iniciei, puxando fio de microfone volante nos campos dos estádios da Montanha (do Ypiranga, o Colosso da Lagoa viria bem depois), da Baixada (do G.E.R. Atlântico) e do 14 de Julho (será que ainda existe?), o Tramontini, que era o gerente da rádio, narrador, chefe de equipe e apresentador de programa de auditório, mais o Célio, um ótimo comentarista com um timbre de voz e uma calma impressionantes, me passavam que a neutralidade e a isenção eram tudo para a credibilidade do profissional do rádio (como de resto para todos os que atuam na Imprensa). Tudo isso para dizer que estou espantado com as peripécias verbais dos nossos narradores atuais, que, a pretexto de incentivarem a torcida a empurrarem seus times em jogos contra equipes de fora, torcem e insuflam desbragadamente durante as transmissões, chegando às raias da provocação, do deboche e da ofensa.
Agora recentemente, por exemplo, durante o jogo do Inter contra o Atletico MG, no Beira Rio, um narrador dizia apaixonadamente, dirigindo-se ao treinador da equipe mineira, que "aqui, Levir Culpi, a história é diferente e tu vais ver" e outras expressões do gênero, praticamente desafiando e provocando o profissional que, é óbvio, não ouvia a tal emissora, mas cujos ouvintes o faziam. Depois, ao fim do jogo, vieram as cenas lamentáveis no sempre conhecido portão 8 e também contra o árbitro do jogo, pela desclassificação da equipe da casa, cenas essas que podem ter sido conseqüência da forma de narrar, reportar ou comentar o jogo.
Tenho que a Imprensa deve apoiar o futebol local - mesmo que às vezes os ouvintes sejam iludidos com transmissões "of tube" - divulgando os fatos, cobrindo as atividades e incentivando. Mas tudo tem o seu limite e a isenção deve sempre nortear o desempenho desses profissionais, principalmente do rádio e da TV, haja vista sua instantaneidade e o reflexo que podem provocar na torcida. Já ouvi comentarista chamar o árbitro de um jogo de "cafajeste" para fora, num claro desrespeito a um profissional que ali está trabalhando, assim como o radialista em questão. E olha que não era nenhum de rádio do interior, não, era de uma grande de Porto Alegre, mas que seguidamente tem esses arroubos que não eram tolerados em outras saudosas épocas do rádio, em que, por exemplo, atuavam Rui Vergara Corrêa, Pedro Carneiro Pereira, Mendes Ribeiro, Godoy Bezerra, Cândido Norberto e tantos outros.
Logo, acho que as tais narrativas emocionadas e por vezes carregadas de um dramatismo desnecessário têm que encontrar os seus limites sob pena de comprometer a seriedade e a isenção do profissional e, principalmente, do veículo a que servem.
* Jornalista e advogado
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