O Marketing da Disponibilidade

Por Enio Lindenbaum, para Coletiva.net

O mercado, as ideias, tudo muito disponível e superficial.

Para alguns como eu, é difícil nominar artigos. O receio de não ser entendido, de soar pretensioso ou, pior ainda, confuso. Não se espera condescendência, nem piedade ou compaixão do leitor. Afinal, estamos ocupando tempo bem precioso e precisamos gerar emoção. Conhecimento e informação também são emoção.

Assim, vamos construindo a forma que percebemos e como tentamos agir no mundo. Lógico, isto serve para aqueles que têm, no mínimo, três refeições ao dia, sapato no pé e necessidades básicas preenchidas. Com isto, podemos buscar propósitos, por exemplo. Tema maravilhoso, desenvolvido pela querida e competente Tania Giacobbo, da Cobbo.

Para atender o furor consumista que por está desregulado, está destruindo nossa vida no planeta e criando a maior disparidade de qualidade de vida jamais vista, os profissionais de Marketing estão se locomovendo para cada vez mais disponibilizar os bens, serviços e serviços públicos em formatos, digamos assim, preguiçosos.

Com isto, um dos mais fortes impactos está sendo no uso da mão de obra e como ela atua nesta nova organização. O Laissez-faire (se não sabe, admita e vá ver o que é) levado às máximas consequências. Padroniza-se tudo, acomoda-se em um mesmo protocolo e tentam te impor pelo Marketing que o bacana é não ser você mesmo. Ou melhor. Faz ter a sensação (emoção) que você é distinguido se for como gado para o matadouro.

Experiência própria. Fui a duas operações gastronômicas brasileiras e, em ambas, ao solicitar uma pequena troca de ingrediente, recebi um não sonoro, acompanhado de cara feia. Perguntei aos atendentes por que o espanto. Eles disseram que TODOS os clientes nem pensam em mudar nada do padrão oferecido, de personalizar o prato ou muito menos em atender a alguma exigência especial de saúde.

A ideia, e expando para o campo educacional e formativo, é claramente com a participação consciente dos profissionais de Marketing para criarem uma homogeneização cultural que nos remete fatalmente a 1984 (George Orwel, vá atrás) ou Fahrenheit 451 (Ray Bradbury). A velha escola pedagógica ensinava que, para um bom aprendizado, era preciso uma dose de inquietude produtiva. Importante não era resolver a equação, mas entender o mapa mental das soluções. Saber procurar respostas, ter desafios e dar graças de errar alguns.

Hoje, a informação vem disponibilizada, o acesso a soluções compartilhadas já criaram os novos poderes não militares. Pequenas sociedades, que investem em pesquisa, conseguem efetivamente um melhor lugar para si e para os seus cidadãos. Não há espaço para amadores, sonhadores. A essência é o resultado comercial.

A revolução do mundo das commodities, as novas tecnologias, que já estão implantando energias renováveis e produção de água barateada, e uma efetiva preocupação com o meio ambiente. Aliás, sobre este tema, sou dos que acreditam que não avança mais enquanto pauta de nações e não da humanidade.

Definir bem comum em um mundo liberal é muito difícil. Basta ver que este compromisso em estados do bem estar social é muito mais dinâmico e presente. Hoje, temos, e muito, a caridade eletrônica. Faço uma doação e aplaco minha consciência. Os abnegados que se exponham a viver nossas miseráveis contradições.

Falo com colegas que se inflam de satisfação quando podem exercer seus talentos em prol de causas públicas. Como se amenizassem as culpas de agirem amoralmente com seus talentos. Mas para não perder a esperança e, diante desta tamanha disponibilidade de informação, serviço e outros que fazem a falsa sensação da escolha e da liberdade, enxergamos faróis. Sim, faróis do tipo marítimo, que vão nos conduzindo pela costa em direção a um porto seguro.

De difícil identificação, vamos encontrando em livros, artigos, palestras, entidades e empresas referencias que nos permitam dar o BASTA. Não quero ser associados às más práticas. Tem que ter coragem, mas a recompensa pela coerência sempre vem. Qualquer bom profissional de Marketing sabe disto.

Ênio Lindenbaum é publicitário.

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