O novo mundo é o das crianças

Por Francisco Brust, para Coletiva.net

Quem tem filhos pequenos ou convive com crianças sabe que a geração que está chegando é anos-luz mais evoluída do que as anteriores. Perto dos pequenos, somos dinossauros pré-históricos engessados, já que as crianças de hoje em dia são conectadas em multicanais e capazes de realizar duas, três ou até mais atividades ao mesmo tempo. E isso me faz pensar no mercado da comunicação: quais serão os melhores caminhos para chegarmos neste público-alvo, ali adiante, quando estas crianças tornarem-se adultas? Há alguns anos, um especialista em comunicação digital me garantiu que os e-mails morreriam em pouco tempo.

Hoje, recebo em média 400 e-mails por dia, divididos em sete caixas de correio eletrônico diferentes, e ao que me parece não há nenhum sinal de arrefecimento deste canal. Os meninos e meninas da mais nova geração já não assistem televisão, são vidrados e se satisfazem com o Youtube. Meu filho tem menos de dois anos e já abre o aplicativo no celular, escolhe o vídeo que quer, altera a todo instante o conteúdo reproduzido. É uma geração muito ansiosa, percebo, mas, acima de tudo, conectada. Essas crianças parecem abduzidas de outro planeta, extraterrestres, mas só nasceram em um mundo totalmente diferente do que nós nos acostumamos a ver.

A revolução digital, afinal, foi incorporada à nossa rotina paulatinamente nas duas últimas décadas, e tivemos que sofrer - literalmente sofrer! - sua adaptação a fórceps. Primeiro, vieram os computadores domésticos e a internet. Depois, a banda larga, os meios de comunicação virtual e as redes sociais. Então, chegaram os smartphones, os aplicativos, o Whatsapp e tudo o que esta verdadeira explosão de possibilidades nos proporcionou. Mas as crianças já nascem imersas neste novo mundo, e sua capacidade de assimilação dos multimeios, da enxurrada de informações que recebemos de todos os lados e das novas tecnologias é infinitamente superior à nossa.

Em recente palestra, ouvi o empresário Abílio Diniz defender que o varejo precisa se preocupar cada vez mais em como atrair a atenção dos clientes. Segundo ele, em vez do tradicional 'share of wallet', as empresas precisam mirar no que ele chama de 'share of eyes' - em resumo, preocuparem-se menos em como vender, e mais em como chamar a atenção dos consumidores. Hoje, cada brasileiro tem em média 80 aplicativos instalados em seu smartphone pessoal, e há mais celulares ativos do que pessoas vivendo no território brasileiro. Tudo isso sem falarmos no milagre das soluções do coletivo para o coletivo, como o Uber, o AirBnb e tantas outras, que mudaram e continuam mudando as relações interpessoais, o mercado e o planeta.

Por tudo isso, para quem investe em divulgação, a dúvida que paira não é a do agora, mas sim a do futuro: qual é o tempo de vida do jornal impresso? Quais redes sociais vão se perpetuar diante desta geração ativa, ansiosa e sedenta por novidades que está vindo? As crianças de hoje ouvirão rádio da forma tradicional que conhecemos? Ou mesmo a relação com a internet e os sites, seguirá no mesmo modelo? Sinceramente eu não creio. O cenário que se avizinha ainda é nebuloso, por mais que tentemos prever o futuro.

A chegada de novas formas de interagir e de novas tecnologias, o contexto político-econômico que vai definir o grau de acesso dos brasileiros a estas inovações, tudo pode mudar na velocidade louca e imprevisível com que tudo acontece neste mundo novo e aceso em que vivemos. Para mim, a sugestão é ficar de olho nas crianças. Observar como se comportam, como se comunicam e do que mais gostam. Quem não participar deste processo e sonegar a necessidade imperiosa de atualização constante vai ficar para trás. E então estes, em breve, serão os novos extraterrestres.

Francisco Brust é jornalista, coordenador de Comunicação e de Capacitação da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas).

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