O país das pegadinhas

Por Eduardo Augusto A ética é uma ciência. Ciência do ethos, palavra grega que significa costumes, isto é, o conjunto de regras aceitas e …

Por Eduardo Augusto
A ética é uma ciência. Ciência do ethos, palavra grega que significa costumes, isto é, o conjunto de regras aceitas e estabelecidas por indivíduos e pela sociedade. Nesse sentido, não enganar é um costume, como também, não agredir pessoas quando estão, por exemplo andando na rua. Muito se fala hoje em dia de ética. O termo já está por demais desgastado.
Se você estiver andando pelas ruas de grandes cidades como São Paulo ou Rio de Janeiro talvez seja surpreendido por alguém que queira, por exemplo, enganá-lo, vendendo "gato por lebre", ou quem sabe dizendo a você que um assassino está à solta no bairro. Pode acreditar, isso foi visto na televisão brasileira. A lista de exemplos de pegadinhas de mau gosto é extensa. Existe hoje essa coisa banal chamada audiência.
"Esse barato" pode sair caro, pelo simples motivo de baixar a qualidade da programação. Audiência deveria ser sinônimo de qualidade também. Essa mentalidade tacanha de que o público gosta de baixaria e se diverte com isso pode encontrar a contrapartida no fato de que todo ser humano tem sensibilidade para a beleza. Quem disse que morador de favela ou dona de casa não sabe apreciar um belo show de dança, com malabaristas audazes ou com uma boa comédia?

Pegadinhas poderiam ser divertidas desde que o bom senso fosse respeitado.
Imagine a seguinte cena: uma pessoa finge que começa a passar mal e cai no chão. Logo que se aproxima alguém para auxiliar, o suposto doente dá um pulo e grita. Da maneira como têm sido exibidas, as pegadinhas são totalmente anti-éticas, porque a regra (costume) é que não se seja agredido ao andar pela rua, que não se grite com um passante sem mais nem menos. Com pegadinha ou sem ela, não é assim que a maioria das pessoas se comporta em público. A regra, nesse caso, virou exceção.
Olhos para ver
Defendo uma TV de qualidade, como sinto que outras pessoas também defendem. As redes de TV fariam bem em agradar ao telespectador não mostrando a feiúra, mas a beleza. Porque é para isso que vivemos, para encontrar a beleza. Não quero dizer que a televisão precise exibir somente documentários, programas de música clássica etc. A criatividade está além dos estereótipos. Uma televisão interessante deve ser aquela que cative o olhar sem ser repetitiva, que agrade a todos, mas que busque novas linguagens. Até admitiria que esses fenômenos mais interativos, que são bem recentes na televisão brasileira, possam ser uma tentativa de busca de linguagem. Contudo, sou contra a apelação que só persegue a audiência rápida, repetindo velhas fórmulas, semana após semana.
Antes que o Brasil se transforme no país das pegadinhas, a televisão brasileira só tem uma saída: criar a beleza, como acontecia há pouco mais de uma década. Ou aquele momento sublime, que muitos nem viram, porque estão desacostumados. Porque todos os dias algo bom passa na televisão. Você viu hoje alguma coisa agradável na TV? Não sou conservador. É seu o direito de assistir ao que lhe agrada. Para mim, entretenimento combina com educação. É preciso olhos para ver.
* Professor de Filosofia. O artigo foi publicado originalmente no site observatoriodaimprensa.com.br

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