O papel do assessor de imprensa

Por Marcelo Nepomuceno, para Coletiva.net

Dois episódios ocorridos recentemente mostraram duas atribuições (entre outras tantas), cujo domínio e compreensão reputo essenciais a um bom assessor de imprensa. Situações até certo ponto cotidianas, mas que, sem o adequado manejo por parte do assessor, tem o condão de gerar danos de imagens ao seu respectivo assessorado ou à instituição em que atua.

O primeiro episódio foi a coletiva de imprensa que tratava da intervenção militar no Rio de Janeiro (27/2). Aguardada com expectativa devido à grande repercussão do tema, a entrevista dos generais resultou em misto de indignação e constrangimento por parte dos jornalistas que realizavam a cobertura.

Os jornalistas que lá estavam foram informados de última hora e submetidos a um formato inusitado de coletiva, com perguntas tendo que ser formuladas por escrito além de uma seleção prévia por parte dos generais que decidiam quais questionamentos seriam respondidos. Em síntese, duas práticas abominadas por repórteres e nada recomendável a uma assessoria.

Coletivas de imprensa - quando convocadas - possuem, sempre, uma pauta central, e é a partir dela que assessores, repórteres e fontes (no caso os generais) se preparam. Compete à assessoria, nestes casos, informar o tempo de entrevista, apresentar as autoridades à disposição e definir a dinâmica das perguntas, preservando a representatividade dos veículos ali presentes para que todos tenham a mesma oportunidade.

Nem sempre é possível que todos os jornalistas façam as suas perguntas, em especial quando o assunto é de grande interesse da mídia, mas até isso é perfeitamente administrável através de uma abordagem proativa da assessoria de imprensa responsável pela coletiva. Gol contra, portanto.

O segundo episódio foi a entrevista do ex-presidente Lula para a Folha de São Paulo. Logo na abertura do texto, a jornalista Mônica Bergamo faz a seguinte descrição:

- Antes de começar a entrevista, o petista passou os olhos por um sumário que a assessoria havia feito para ele sobre a entrevistadora.

"Busca esta entrevista faz anos, cercando amigos e conhecidos do presidente para isso. Ela tentará interromper, questionar o discurso, apontar contradições, tentar que assuma erros e investir muito em plano B", dizia o resumo.

Esse pequeno trecho, irrelevante até se levarmos em conta o conteúdo da entrevista, é paradigmático para a compressão do papel do assessor de imprensa. Muito além de um fabricador de releases, síntese pejorativa e até certo ponto injusta, mas que, infelizmente, ainda retrata uma significativa parcela das assessorias espalhadas por aí tanto na iniciativa pública como privada.

Volto ao resumo: naquelas poucas linhas, a assessoria subsidiou o ex-presidente de informações essenciais para a entrevista.

- Além de sintetizar quais eram os focos da repórter, informou sobre como a profissional costuma conduzir a entrevista. Cada jornalista tem um estilo, um jeito de perguntar e interagir. Trazer luz ao assessorado nessa hora é ouro.

- O resumo citou o trabalho que a jornalista teve até chegar à entrevista, contexto importante para o assessorado (Lula). Não era uma entrevista que surgia, assim, de um estalo da redação na noite anterior.

- O sumário ainda prepara para o que seriam os principais pontos da entrevista (o que acabou se confirmando depois). Para chegar à tamanha sintonia, a assessoria não se valeu de um exercício de adivinhação. Pelo contrário. É fruto de um dedicado trabalho de acompanhamento do noticiário (em todos os seus meios) e das suas análises, de relacionamento com a imprensa, e muito provavelmente de relatórios de clipagem e monitoramento das redes sociais.

As duas situações que ilustrei, repito, são do cotidiano de um assessor de imprensa. Cotidiano, este, marcado por uma demanda intensa e cada vez maior de atividades e competências, mas também por detalhes sutis os quais não podemos descuidar. Fiquemos atentos.

Marcelo Nepomuceno é jornalista.

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