O Publicitário

Por Iraguassu Farias, para Coletiva.net

Ocupo indevidamente o espaço. Não era pra estar aqui. E pra piorar, me antecederam três figuras de respeito: Max, Fábio e Mauro. O receio é grande, especialmente porque o Coletiva.net resolveu mudar o viés da editoria de Artigos: só o pensar daqui, próximo de mim, de quem eu vejo, encontro e tiro selfie. Não mais de gente de fora e sem a preocupação com o caráter eminente e presunçosamente formativo.

Não era pra eu estar aqui. Especialmente, por que ainda reverberam os comentários sobre os artigos dos três escribas da semana. A meu favor, o fato de amanhã ser feriado e depois sábado e domingo. Portanto, a audiência cairá e poucos me lerão. Aí as coisas voltam ao seu lugar, pois a ninguém interessa o que pensam os que têm pouco a dizer.

Enrolei, enrolei, porque escrevo enquanto penso (o contrário também vale) o que falar no Dia do Publicitário não sendo um. Mas o que sou? Um vendedor. E o que é o publicitário senão um vendedor? Nem me estendo aqui, porque não ousaria uma incursão por esta definição, especialmente em épocas de tantas transformações. Então, pude me propor a pensar (enquanto escrevo) no que ele vende e novamente tangenciei a questão da relação com clientes, pra me fixar na relação dele com sua imagem, no que vende de si mesmo.

E não tenho como fugir de uma referência: o estrelato. Começando por cima, por assim dizer, podemos nos fixar na questão da política. Publicitários elegem presidentes de países. Dá pra imaginar? Poderia elencar nomes aqui - e nem precisaria mencionar pagamentos em dólar no exterior, que nos vem à lembrança grandes nomes. Mas ficarei na baixada, no dia a dia, no perto e, especialmente, na experiência e no relacionamento com publicitários. Claro que já convivi com muitos recém-saídos da universidade, mas a expressão maior da profissão, obviamente, é o bem sucedido, o de sucesso.

Poucos sabem, mas o hoje vendedor em questão já teve na ponta da sua caneta a maior verba de publicidade deste estado. E já foi cortejado, bajulado, até tentado ao imoral por muitos publicitários da nossa terrinha. Hoje, não passo da recepção de muitos. Mas, justiça seja feita, lembrado por outros tantos e muito bem recebido.

O publicitário bem sucedido de hoje foi um iniciante tempos atrás. E, por lidar com uma matéria-prima sensível, - a imagem, muitas vezes se deixa engolir por esta magia. Fica arrogante, inacessível e egocêntrico. Sabe mais que todos e tem exatamente a solução que vai mudar a vida do cliente. E acredita tanto nisto que perde a noção da fronteira da humildade que um dia teve, e que desde muito já perdeu. Afinal, ganhou o prêmio X. Portanto, curvemo-nos.

Um dia, ouvi de uma produtora de uma agência: "Ih, o negócio aqui é ganhar prêmios. Nem é faturar". Estranho ouvir isto de um colaborador, mas resume um modo de pensar.

O pavonismo, o queixo erguido com o olhar por cima, me pareceu muitas vezes motivo mais que suficiente pra deixar rapidamente um evento que reúne estes profissionais, que a bem da verdade mal conseguem sentar juntos numa entidade classista, tal a ciumeira vigente. O intento aqui é mais ou menos dizer assim: vocês poderiam ser mais completos se fossem mais humildes, se não esquecessem suas origens.

E eu queria poder dizer isto a algumas pessoas que não atendem uma ligação, não retornam um recado, não respondem a um simples e-mail, ou para as quais você precisa esperar seis meses para ser recebido. Não é um privilégio, claro, deste profissional. Há outras classes até piores. Mas é deles que falamos hoje. Os que, para mim, não são melhores porque perdem ao longo da trajetória o que há de melhor no ser humano.

Iraguassu Farias é administrador de empresas e sócio-diretor de Coletiva.net.

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