O que morre com Roberto Marinho

Por P. C. de Lester Vejam só, amigos da Rede Globo! O dr. Roberto Marinho surpreendeu o Brasil ao morrer com 98 anos de …

Por P. C. de Lester
Vejam só, amigos da Rede Globo! O dr. Roberto Marinho surpreendeu o Brasil ao morrer com 98 anos de idade! Seu poder era tão grande que havia convencido o país de que era imortal!
"O que morrerá comigo quando eu morrer?", perguntava o poeta. O que terá morrido com Roberto Marinho, ficamos nós a perguntar. Pois eu lhes digo: morre uma escola.
Roberto Marinho foi, até a longevidade, o mais bem sucedido dos muitos jornalistas-empresários que tentaram, não só no Brasil, seguir os passos de Adolph Ochs, o judeu alemão que fez do The New York Times o jornal mais influente do mundo.
Na origem do sucesso de ambos está um jornal disposto a contar o que aconteceu. Ou, como diz o lema do NYT: "Publicar todas as notícias que merecem ser publicadas". O modelo é sedutor.
A redação tem autonomia para ir atrás dos fatos e o que ela consegue apurar com segurança é publicado.
Critérios ideológicos ou comerciais podem influir na ênfase ou no espaço dado a um assunto. Nunca podem implicar na supressão de um fato, de uma notícia bem apurada. Este é o princípio, que vai atrair leitores e dar credibilidade ao jornal.
Não interessa discutir aqui o grau de aproximação entre modelo e realidade. Importa é que no caso de Roberto Marinho, como no de Ochs, o projeto foi bem sucedido e que, em ambos os casos, ele tem na origem um jornal e um homem com profundo conhecimento de como funciona um jornal.
O projeto cresce, torna-se um conglomerado, com rádio, televisão, Internet, o escambau. Mas o jornal continua sendo o núcleo, o produtor da ideologia, o gerador da credibilidade.
Roberto Marinho não ligava para William Bonner para saber quais as manchetes do Jornal Nacional. Ligava para o chefe de redação de O Globo.
O que quero dizer: com Roberto Marinho morreu o último grande empresário de comunicação do país que tinha certeza de que a redação é mais importante do que o departamento comercial.
Ele não era o santo que estão pintando. Mas, do jeito que as coisas vão, ainda vamos ter saudades dele.
* Artigo publicado no jornal JÁ, edição de agosto de 2003.

Comentários