O que você disse mesmo?

Por Simone Ávila, para Coletiva.net

Falar é diferente de comunicar. Escutar é diferente de ouvir. Parece óbvio, mas não é, ainda mais nos dias de hoje, em que somos atropelados pela velocidade de incontáveis estímulos, informações e conexões. "Tudo ao mesmo tempo e agora" já faz parte do nosso DNA. Comunicar, no entanto, é algo muito maior, que exige entrega, esforço e confiança. Significa parar aquele momento do seu precioso tempo e se dedicar a escutar realmente alguém. E fazer isso sem pressa, sem interrupções, sem bater aquela taquicardia típica de quem sempre tem muitas coisas para fazer e precisa dar conta daquela "fatura" que não fecha nunca. É colocar o seu holofote naquela pessoa e prestar atenção em absolutamente tudo o que está ali, bem na sua frente, como se o tempo fora de nós estivesse parado. Ah!, e outro ponto importante: olhar nos olhos. Qualquer distração e aquela possibilidade de enxergar a alma do outro, escapa.

Não precisa ser um guru ou um especialista em leitura corporal, nada disso. Só é necessário estar disponível, de verdade, pra valer. E isso tudo, por mais simples que pareça, não é pouca coisa dentro dessa realidade caótica (também no bom sentido) e transformadora que vivemos. 

No meio de tanta correria, é sempre uma tentação concluir aquilo que o outro está dizendo, sem deixar que ele termine sua fala, do seu jeito, no seu tempo. Antes, não muito antes (!), isso se chamava educação. Mas, atualmente, estamos impregnados por esse comportamento frenético, no qual é mais urgente dizer quem somos, o que fazemos e como pensamos. É tipo um vício. Para "pular fora" deste círculo vicioso é preciso um exercício diário. Comunicar é perceber o outro e mergulhar nele, sem julgamentos, sem filtro. É uma tarefa árdua que exige disciplina e vigilância constante.

Para escutar não basta "fechar a boca", ao contrário, você tem que acordar o corpo inteiro. Escutar é doar o seu silêncio, é estabelecer empatia, é dedicar-se a colocar o outro em lugar especial, único. Confesso que eu achava que sabia escutar até fazer um trabalho voluntário no Centro de Valorização da Vida (CVV). Fazia atendimento, por telefone, aos sábados. Foi quando aprendi que é preciso exercitar a "escuta ativa" e prestar atenção em cada palavra, no tom de voz, nas pausas e até na respiração do interlocutor. Nesse caso, fundamental, para quem em um momento de solidão e desespero decide expor suas feridas e compartilhar sua dor. Lá também aprendi que empatia não é, ao contrário do que imaginava, colocar-se no lugar do outro. Isso é impossível, você não é o outro, não sente como ele e ponto. Então, é preciso se colocar ao lado dele para perceber sua caminhada e oferecer ajuda se ele quiser, é claro. 

Todo o sábado depois do plantão era uma canseira danada, mas saía de lá com todos os sentidos aguçados e aquilo me transformou. Levei isso para as relações profissionais também, no dia a dia com os colegas e nas reuniões com os clientes. E sem nenhuma modéstia, acho que funcionou. Percorri o universo de cada um por caminhos diferentes, identifiquei expectativas que estavam ali, esperando por um olhar mais atento. Percebi necessidades muitas vezes ocultas, e que antes, poderiam passar despercebidas. E como dizem meus amigos publicitários para "encantar" um cliente, penso que antes de mais nada você precisa de fato saber escutá-lo. Acredito que com este aprendizado, que é fruto de uma construção permanente, tornei-me uma pessoa melhor e uma profissional mais assertiva. E o mais importante: mais generosa. Talvez tudo isso possa parecer óbvio, mas não é.

Simone Ávila é jornalista.

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