O Rio Grande na Segunda Divisão

Por Wesley Callegari Cardia A estreita ligação do futebol com a economia já é um fato conhecido há muitos anos. O fenômeno mais eloqüente …

Por Wesley Callegari Cardia
A estreita ligação do futebol com a economia já é um fato conhecido há muitos anos. O fenômeno mais eloqüente dessa relação era a constatação de crescimento da produção da indústria paulista nos dias subseqüentes a vitórias do Corinthians. As vitórias do mais importante clube do estado de São Paulo emulavam a massa de trabalhadores.
A correlação dos resultados de campo com a psiqué humana é facilmente percebível. A tensão que paira sobre todos nós nas horas que antecedem os jogos da Seleção Brasileira, assim como a onda de euforia ou tristeza que toma o país de norte a sul após cada partida, são reações tidas como normais e esperadas.
Quando o Brasil capengava nas eliminatórias da Copa do Mundo de 2002 (com chances de não se classificar), não faltaram especialistas para explicar o quanto a participação (ou não) na Copa Coréia/Japão representaria para a economia. Segundo outros, até os resultados das eleições poderiam ser afetados pela presença ou ausência nos jogos.
Alguns setores da economia, é claro, seriam afetados diretamente pelos resultados dos jogos. E mais ainda pelo bom resultado da campanha. A mídia, agências de publicidade, fabricantes de material esportivo, entre outros, sofreriam diretamente com os resultados. A própria Rede Globo, que havia pago mais de U$ 200 milhões pelos direitos de transmissão, devia estar rezando noite e dia para o sucesso da Seleção. Aliás, parece que a reza foi forte, porque os índices de audiência bateram recordes.
No nosso combalido Rio Grande do Sul, herdeiro de uma administração desastrosa na última gestão estadual, o futebol tem uma implicação ainda mais interessante. A dicotomia entre Grêmio e Internacional, suas mazelas e conquistas, uma vez que concentram a quase totalidade dos torcedores do Estado, afetam os humores dos gaúchos em turnos. Quando gremistas comemoram há grandes chances dos colorados estarem infelizes, e vice-versa. Raramente ambas as torcidas estão soltando foguetes ao mesmo tempo. Aliás, esta é uma característica do gaúcho, vibrar com as derrotas ou desgraças dos outros, mas isso é assunto para outro artigo.

O importante é ressaltar que o desempenho da dupla Gre-Nal vai muito além do lúdico e do esportivo. Sua performance é importante para a economia e para os humores de milhões de gaúchos. Além de muito importante para rádios, jornais e televisões do Rio Grande do Sul. O futebol gaúcho talvez seja o mais importante dentre os estados brasileiros para a mídia. É irônico perceber que essa relação de quase dependência deve-se à elevada qualificação dos programas esportivos transmitidos, à alta qualificação dos profissionais e à boa informação oferecida. Nenhum outro estado brasileiro tem transmissões esportivas e comentários pelo rádio com qualidade sequer comparável à nossa.
O Grêmio, infelizmente, parece estar quebrando uma centenária corrente de lutas e se deixando abater um dos dois momentos mais importantes de sua história (a conquista do Campeonato Mundial e seu Centenário). A queda para a segunda divisão é terrível do ponto de vista clubístico e esportivo. Mas é, ao mesmo tempo, uma derrota para o Estado.
Uma solução pouco ortodoxa e não condizente com o espírito farroupilha seria uma virada de mesa. Infelizmente isso está duplamente fora de questão. Primeiro, porque esse golpe contra a ética seria mais uma mancha na imagem do futebol. Segundo, porque o recente exemplo de correção dado por Palmeiras (a quarta maior torcida do Brasil) e pelo Botafogo em acatarem o rebaixamento não deixa margem para uma atitude vil dessas.
Nesse momento só resta, portanto, apoiar o Grêmio de forma irrestrita. Venha este apoio da torcida, da mídia, dos parceiros comerciais e do Rio Grande como um todo. Isso inclui vermelhos, verdes, amarelos e especialmente azuis. Porque o rebaixamento do Grêmio não significa apenas uma derrota do clube e de seus jogadores e torcedores, mas uma derrota e uma grande perda para o Rio Grande.
* Wesley Callegari Cardia é consultor de Marketing

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