Ovelha com jogo de cintura

Por Gilberto Jasper, para Coletiva.net

13/11/2018 17:53 / Atualizado em 13/11/2018 17:52

A expressão ?ovelha não foi feita pra mato? é consagrada em nosso Estado. Significa que, independentemente da competência de determinada pessoa, ela deve limitar seu trabalho ao um ramo específico. Ou seja, deve evitar imiscuir-se em funções que não digam respeito à sua especialidade.

O ditado ressurgiu ao assistir as entrevistas do recém-indicado ministro da Justiça, o ex-juiz federal Sérgio Moro. Goste-se ou não do magistrado paranaense, o Brasil mudou depois do trabalho desenvolvido ao longo da Operação Lava-Jato.

Condenados, indiciados e processados têm seu próprio veredito a respeito do líder da investigação que teve início em um posto de lavagem de veículos em Curitiba. O desenvolvimento dos trabalhos freou a pecha de ?país da impunidade?.

Há inúmeros figurões da política brasileira, inclusive um ex-Presidente da República e presidentes de partidos, bem como empresários de peso ? principalmente empreiteiros ? e outras figuras de destaque no cenário nacional presos há tempo. Julgados em segunda instância, os ladrões do dinheiro público nunca imaginaram que seriam flagrados, investigados e punidos.

Apesar do notório saber jurídico, Sérgio Moro corre o risco de ser fulminado por aquilo chamado de ?coisas da política?. São desvios de conduta, deslizes e contravenções tolerados até crimes hediondos cometidos em nome da ?governabilidade?, uma espécie de salvo-conduto para o consagrado vale-tudo.

Sérgio Moro, ali adiante, vai deparar com curvas e bretes do submundo de Brasília. São hábitos incorporados ao longo do tempo, difíceis de extirpar. O magistrado flerta com uma trajetória trilhada com a lei e o Direito. A história, porém, está repleta de episódios em que a prática engoliu biografias notáveis.

Sérgio Moro, amado e odiado, talvez não seja a ovelha mais indicado para enfrentar este mato de armadilhas, pegadinhas e chicanes que exigem mais jogo de cintura que conhecimento técnico. Como diriam os narradores de antigamente... reina grande expectativa!

Gilberto Jasper é jornalista.